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terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

ELIXIR DO AMOR

Na ópera Elixir do Amor, de Donizetti, Nemorino quer casar com Adina, mas não tem condições financeiras, alista-se no Exército, recebe dinheiro e compra “a poção mágica do amor”. Enquanto isso, não sabendo que herdou uma fortuna do tio, ele participa de uma grande festa onde todas as mulheres estão dançando alegres e felizes pela notícia da herança.
Na noite de luar, Nemorino canta a famosa ária Una furtiva lagrima defronte da casa da amada. Depois, ela vai ao encontro dele, entrega-lhe o documento que ele assinara para entrar na carreira militar, devolvendo-lhe a liberdade para permanecer na aldeia. Ele fica muito grato a Adina e ambos se beijam num final feliz.
O arquétipo de modificar panoramas íntimos, através de elixir, vem desde Tristão e Isolda, passa pela heroína de Donizetti, e chega ao divã em todo o mundo, com a propaganda exportada dos Estados Unidos de uma filosofia de que é necessário ser feliz o tempo todo, se não for, tem a pílula, levando todos a crer que os males psíquicos são curados com medicação.  
A entrevista do jornal El Pais, Madri, edição de 06/02/2016, com o jornalista Robert Whitaker, autor da obra Anatomy of na Epidemic, prêmio de melhor livro investigativo de 2010, obtido nos Estados Unidos, autor de uma série de reportagens divulgadas pelo jornal Boston Globe, comprova o que vimos falando a respeito da psiquiatria.
A observação de Whitaker a respeito de melhor quadro clínico de pacientes de esquizofrenia nos países onde são menos medicados, citando a Índia e a Nigéria, do que nos lugares, como por exemplo os Estados Unidos. Acrescenta ele que, conforme declarado pela Escola de Medicina de Harvard, a evolução dos pacientes dessa doença em 1994 tinha piorado com a implantação de medicamentos em relação ao ano de 1970.
Diferente de outros exames médicos que comprovam a existência da doença, através de laboratórios e de raios-X, o diagnóstico do médico psiquiatra é sempre questionável, pois se dá na área da subjetividade e corroborando o pensamento da médica Adriane Fugh-Berman, contido na referida matéria da Viomundo: “Outro exemplo é a doença da ansiedade social. É bom notar que a psiquiatria é a profissão mais suscetível a diagnósticos questionáveis porque todos os diagnósticos são subjetivos.” [PÍLULA ADOCICADA – 22 de agosto de 2015 – blog Fernando Pinheiro, escritor]. 
Graças a iniciativa do psiquiatra Robert Spitzer (1932/2015), autor do primeiro livro de diagnóstico de transtornos mentais,  a homossexualidade foi excluída como distúrbio mental do DSM-III (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria), editado em 1980, passando o diagnóstico a ser “perturbação de orientação sexual”, destinado a pessoas cuja orientação sexual, de qualquer variedade, as tenham causado sofrimento [The Telegraph – 13 de janeiro de 2016].
Segundo ainda o matutino britânico, o trabalho de Spitzer estabeleceu uma nova DSM capaz de “erradicar o preconceito humano e obsessões freudianas com o ‘inconsciente’, possibilitando aos psiquiatras uma verificação de diagnóstico baseado na ciência”. Foi retirado também o termo neurose. Na edição do DSM de 1987, foram incluídos transtorno bipolar, transtorno de déficit de atenção, transtorno de pânico, autismo, bulimia e PTSD. [CAROL – 08 de fevereiro de 2016 – Fernando Pinheiro, escritor].
A 5ª e última versão do DSM – Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais está em vigor desde maio de 2013, elevando o número de patologias mentais a 450 categorias diferentes que eram 182, nos idos de 1968, no Manual DSM–2 [Folha de S.Paulo – 14/05/2013].
Com o apoio da mídia, a indústria farmacêutica joga pesado e faz convencer os médicos e a sociedade em geral que os problemas psicológicos são resolvidos com remédios de sua fabricação.
Em alguns casos, sim, são úteis, mas o excesso provoca dependência, inclusive está havendo “mais mortes por abuso de medicamentos do que por consumo de drogas”, segundo o Dr. Allen Frances, Catedrático emérito da Universidade Duke, Carolina do Norte, EE.UU., na entrevista concedida em 27/09/2014, ao Jornal El Pais – Madri, Espanha. – Apud  PÍLULA ADOCICADA – 22 de agosto de 2015 – blog Fernando Pinheiro, escritor.
Vale mencionar o que nos diz Cindy Whitehead, em entrevista ao Wall Street Journal, nos idos de 2014: “é irônico que agora a mulher que não tenha interesse em sexo seja classificada como doente mental e aqueles que discordem considerados sexistas.” – Apud  Site MOTHERBORD – Ladybits – O “Viagra Rosa” vem aí para resolver um problema que talvez não exista – Escrito por Emma Paling – 6 July 2015 [Apud PÍLULA ADOCICADA – 22 de agosto de 2015 – blog Fernando Pinheiro, escritor].
Será que os remédios farmacêuticos, receitados por médicos, estimulam o funcionamento dos neurotransmissores que estão no cérebro? Os laboratórios que vendem em cifras gigantescas não têm dúvida em vender mais. [CANÇÃO DO MAR – 4 de outubro de 2013 – blog Fernando Pinheiro, escritor]
Quando uma pessoa cria, com o pensamento, a dopamina, uma substância que faz a conexão de algumas vias neuronais, não há nenhuma possibilidade de surgir a esquizofrenia ou outra doença mental. Há outras substâncias: endorfina, serotonina. [ASYLUM – 19 de maio de 2014 – blog Fernando Pinheiro, escritor]
Quanto vale esse conhecimento? Muito dinheiro. A nível mundial, estima-se em torno de US$ 14 bilhões por ano de faturamento para a indústria farmacêutica e aos profissionais da área de saúde. Na palestra Evolução Aprenda, o Prof. Hélio Couto comentou: “essas pessoas não tem o menor interesse em você fabricar em seu cérebro a serotonina quando você quiser.” [ASYLUM – 19 de maio de 2014 – blog Fernando Pinheiro, escritor]
Mas, é bom notar que o acompanhamento dos pacientes se agita na área da subjetividade, pois o cérebro ainda não está totalmente desvendado em seus segredos milenares. É largamente difundido que usamos apenas 8 a 12% de nossa capacidade, sendo que o cientista Albert Einstein usou a capacidade de 12%. [CANÇÃO DO MAR – 4 de outubro de 2013 – blog Fernando Pinheiro, escritor]
Milhões de pessoas no Iraque, na Síria e na Turquia, onde há forte domínio da população pelos terroristas do Estado Islâmico, sobrevivendo com mil dificuldades, inclusive no meio de bombardeios dos Estados Unidos, existe uma cultura sem recorrer à psiquiatria. [A FONTE DAS MULHERES – 13 de novembro de 2015 – blog Fernando Pinheiro, escritor].
É o canto, é a dança que desperta o exilir do amor, aquela libido despertada quando há o envolvimento total dos corações que se aproximam e se unem em doce encanto. O Salgueiro trouxe tudo isso, no desfile do carnaval de 2016. A magia estava em tudo, na arquibancada que a aplaudiu e na escola de samba que revelava beleza.
O Salgueiro na avenida fez-nos lembrar da Danza gitana en la taberna de Lillas Pastia e da Habanera L´amour est un oiseaux rebelle, da ópera Carmen, de Bizet, não pela música, mas pela personagem interpretada, em épocas distintas, por  Maria Ewing, Rinat Shalam, Agnes Baltsa, Elina Garanca, Rita-Lucia Schneider, Julia Migenes, Anna Caterina Antonacci, Grace Bumbry e Denyce Graves. Ouvindo-as, distintamente, é como se estivéssemos apreciando aquele milagroso elixir do amor. 

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