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domingo, 7 de fevereiro de 2016

AS SEMENTES E O TEMPO

Fazer o que se gosta, até os animais o fazem. Difícil mesmo é fazer o que não se gosta. A vida nos dá sempre novas opções.
É claro que nossas tendências e aptidões têm maior  desenvoltura naquilo que nos acostumamos a fazer. A repetição é mais fácil. O novo requer concentração e aprendizado  diferente.
Quando começamos a fazer o que não gostamos, estamos aprendendo a mudar de condicionamentos anteriormente  estruturados e agora requerem a revisão para que o destino seja mudado.
As mudanças estão em tudo, no tempo e nas nuvens que passam. O destino é ação que se revela criando o futuro.
Pensar no destino como apenas algo que se tem de passar, sem acreditar nas nossas possibilidades de alterá-lo em suas formas variáveis, seria o mesmo que amarrássemos as mãos juntas. Trabalho difícil de se fazer.
As alterações constantes do dia-a-dia leva-nos a posturas novas onde enfrentamos desafios dos tempos difíceis que ora  estão chegando numa exacerbação que caracteriza o fim de um ciclo planetário.
Não há o que se criticar. Há uma cadeia de interesses transitórios que se refletem a níveis pessoais, comunitários e internacionais, onde a sobrevivência tem a maior importância.
No acúmulo dos haveres fugazes, a consumação é controlada pelo detentores do poder em todos os níveis e só chega com vigor nas camadas que os sustentam.
O talento, que foi adquirido através de experiências muito antigas, agora se vê entregue a circunstâncias do momento que o redimensiona em outros caminhos.
O lado material tem um peso muito grande na vida do artista. A arte é eterna e subsiste a todas as crises estabelecidas pelo homem. Mas o artista é humano e precisa sobreviver às exigências da matéria.
Nesse contexto, ele busca os meios necessários à sua sobrevivência em outras fontes, pois a arte parece perder o seu prestígio, não por seu valor, mas pela falta de dinheiro de pessoas que, mesmo a apreciando, não podem desfrutá-la. Isto atinge até mesmo a área dos patrocinadores.
As exigências dos tempos novos coloca-nos em situações que teremos de aprender em aspectos que nunca pensamos ser possível. É natural que seja assim, pois o compositor não vive apenas da última composição. A criação é o seu trabalho.
É necessário semear. Se os melhores canteiros estão ocupados por máquinas que promovem o imediatismo do conforto material, procuremos outros espaços onde possamos caminhar livremente, adaptando-nos às exigências da época, sem perdermos as sementes que trazemos em mãos.
O que vale é a maneira como elaboramos o nosso trabalho. Quantidade é bem diferente de qualidade. Às vezes basta um olhar, um gesto que criam situações que nos favoreçam avistar novos horizontes.
Quando as circunstâncias não são favoráveis, mil discursos se perdem no espaço para repercutir muito longe num tempo em que não podemos avaliar.
O que preocupa muita gente não é a arte que possui intimamente, mas a ansiedade de vê-la surgir perante o público antes da hora, como a semente que está escondida para virar árvore.
Empreguemos o tempo naquilo que sentimos ser necessário à nossa vida sem perdermos o ânimo no trabalho que as circunstâncias nos oferecem.

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