Quando dizemos que vamos fazer algo
ou que gostamos de alguma coisa, pessoa ou situação, sem sabermos que tudo
acontece nos ditames de uma lei maior, estamos afirmando o nosso ego.
Se
Deus quiser é a expressão que deve reger todas as nossas ações. Mesmo porque
ainda, sem nos conhecermos intimamente, mudamos de idéia a toda hora, no fluxo
das circunstâncias que passam.
Se
a síntese do pensamento religioso e científico, revelada por Spinoza, se
concentra no conceito de que todo o universo é constituído de uma só substância
que ganha todas as formas e aspectos, devemos reconhecer a importância do “eu”
divino do nosso ser acima das referências pessoais.
O
homem ainda cultua a personalidade como se tivesse substância transcendente.
Puro engano. As desilusões que criou o envolvem com aspectos sombrios.
Enquanto
isso, ele vagueia no rumo dos negócios e interesses que se interligam com
outros companheiros, sobrepondo-os sempre com a sua personalidade para que a
vaidade lhe norteie o destino.
Todo
o sofrimento do homem está no desconhecimento de sua realidade divina, pois se
isola, como a célula do câncer, da manifestação que faz a vida ser única.
O
culto à personalidade é engano que se adapta a situações dissimuladoras para
que as aparências tenham predomínio sobre aquilo que deveria ser.
Assim,
o mundo moderno vive num clima artificial, pessoas dando desculpas para
justificar situações que parecem ter um brilho da personalidade.
O
conceito de grandeza gira sempre em torno de falsas aparências. Os fariseus
hipócritas se ajuntam, desde os tempos bíblicos, para compor a casta que ilude
e arrasta multidões à decepção e ao amargor.
Por
que a cultura que entroniza a personalidade humana não reconhece Deus em todas
as pessoas, seres de toda natureza e formas de infinitas concepções?
Nós
sabemos que a vida que vem surgindo nos reinos inferiores sonha ser um dia o
homem para reconhecer a sua identificação no cenário evolutivo do universo.
Mas
ele, no estágio entre animal e anjo, duvida de sua capacidade de se
engrandecer, pois suas forças são pequeninas demais.
Se
participar do movimento da vida única que envolve tudo que existe, certamente a
sentirá dentro de si, com possibilidades de fazer tudo, tudo mesmo, se Deus
quiser.
A
partir daí, ele reconhecerá Deus no próximo, Deus nos animais, Deus nas
estrelas, Deus no arco-íris, Deus no fogo, Deus na água, Deus na terra e Deus
no espaço.
Para
eliminar as mazelas, dores e aborrecimentos, tão comuns na vida humana, devemos
abolir o culto à nossa personalidade que pertence mais ao mundo de mentira, em
que todos recebem influência, e pensar no “eu” divino que não adoece, não fica
triste e nem se preocupa com as incertezas criadas pelo homem, nos negócios, na
política e na administração em geral.
Todos
caminham, a exemplo dos animais, em direção
de paisagens verdejantes e fontes
cristalinas, onde podem matar a fome e a sede de todas as necessidades e
conhecimentos que permitem reconhecer em tudo a vontade de Deus.
Enquanto
o homem viver de ilusão, sem saber distinguir a emoção e a inteligência, a
personalidade e o “eu” divino, o instinto e o sentimento, não será feliz.
O
destino dele, seguindo a parábola conhecida, é voltar à casa paterna que não
tem demarcação específica, mas se encontra onde ele estiver, inclusive dentro
de si.
É
por isso que tudo que vive tem religiosidade, ou seja, inclinação a se religar
a Deus. Os pássaros e os animais se entregam a essa doce religação, onde não
lhes falta nada para sobreviver.
Mas
o homem ainda tem receio e desconfiança sobre o muito que foi falado por falsos
profetas de doutrinas que se utilizavam da religiosidade para escravizar-lhe o
pensamento, mesmo fora das tradições religiosas.
Nascidas
nas fontes límpidas do amor, todas as religiões têm por finalidade estimular os
homens a reconhecer que estamos amparados por Deus. Seus mensageiros e
sacerdotes cumprem missão que lhes engrandece a visão de vida.
Os
aprendizes acerca da realidade divina se fazem por estágios e todos eles são
necessários à evolução, o que pode ser feito em sinagogas, igrejas e templos
das mais variadas denominações.
É
claro que cada um deve se adaptar às conveniências do seu mundo interno que é,
em síntese, o mesmo para todos os homens, variando, apenas, nas experiências
individuais.
Religioso
ou não na ortodoxia humana, o homem tem a religiosidade dentro de si. É aquele
sonho que lhe clareia a visão do paraíso e, quando está afastado da realidade
única, é aquela saudade, quase imperceptível, que o acompanha, revelando-lhe
suas origens.
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