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terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A REALIDADE ÚNICA

Quando dizemos que vamos fazer algo ou que gostamos de alguma coisa, pessoa ou situação, sem sabermos que tudo acontece nos ditames de uma lei maior, estamos afirmando o nosso ego.
Se Deus quiser é a expressão que deve reger todas as nossas ações. Mesmo porque ainda, sem nos conhecermos intimamente, mudamos de idéia a toda hora, no fluxo das circunstâncias que passam.
Se a síntese do pensamento religioso e científico, revelada por Spinoza, se concentra no conceito de que todo o universo é constituído de uma só substância que ganha todas as formas e aspectos, devemos reconhecer a importância do “eu” divino do nosso ser acima das referências pessoais.
O homem ainda cultua a personalidade como se tivesse substância transcendente. Puro engano. As desilusões que criou o envolvem com aspectos sombrios.
Enquanto isso, ele vagueia no rumo dos negócios e interesses que se interligam com outros companheiros, sobrepondo-os sempre com a sua personalidade para que a vaidade lhe norteie o destino.
Todo o sofrimento do homem está no desconhecimento de sua realidade divina, pois se isola, como a célula do câncer, da manifestação que faz a vida ser única.
O culto à personalidade é engano que se adapta a situações dissimuladoras para que as aparências tenham predomínio sobre aquilo que deveria ser.
Assim, o mundo moderno vive num clima artificial, pessoas dando desculpas para justificar situações que parecem ter um brilho da personalidade.
O conceito de grandeza gira sempre em torno de falsas aparências. Os fariseus hipócritas se ajuntam, desde os tempos bíblicos, para compor a casta que ilude e arrasta multidões à decepção e ao amargor.
Por que a cultura que entroniza a personalidade humana não reconhece Deus em todas as pessoas, seres de toda natureza e formas de infinitas concepções?
Nós sabemos que a vida que vem surgindo nos reinos inferiores sonha ser um dia o homem para reconhecer a sua identificação no cenário evolutivo do universo.
Mas ele, no estágio entre animal e anjo, duvida de sua capacidade de se engrandecer, pois suas forças são pequeninas demais.
Se participar do movimento da vida única que envolve tudo que existe, certamente a sentirá dentro de si, com possibilidades de fazer tudo, tudo mesmo, se Deus quiser.
A partir daí, ele reconhecerá Deus no próximo, Deus nos animais, Deus nas estrelas, Deus no arco-íris, Deus no fogo, Deus na água, Deus na terra e Deus no espaço.
Para eliminar as mazelas, dores e aborrecimentos, tão comuns na vida humana, devemos abolir o culto à nossa personalidade que pertence mais ao mundo de mentira, em que todos recebem influência, e pensar no “eu” divino que não adoece, não fica triste e nem se preocupa com as incertezas criadas pelo homem, nos negócios, na política e na administração em geral.
Todos caminham, a exemplo dos animais, em direção  de  paisagens verdejantes e fontes cristalinas, onde podem matar a fome e a sede de todas as necessidades e conhecimentos que permitem reconhecer em tudo a vontade de Deus.
Enquanto o homem viver de ilusão, sem saber distinguir a emoção e a inteligência, a personalidade e o “eu” divino, o instinto e o sentimento, não será feliz.
O destino dele, seguindo a parábola conhecida, é voltar à casa paterna que não tem demarcação específica, mas se encontra onde ele estiver, inclusive dentro de si.
É por isso que tudo que vive tem religiosidade, ou seja, inclinação a se religar a Deus. Os pássaros e os animais se entregam a essa doce religação, onde não lhes falta nada para sobreviver.
Mas o homem ainda tem receio e desconfiança sobre o muito que foi falado por falsos profetas de doutrinas que se utilizavam da religiosidade para escravizar-lhe o pensamento, mesmo fora das tradições religiosas.
Nascidas nas fontes límpidas do amor, todas as religiões têm por finalidade estimular os homens a reconhecer que estamos amparados por Deus. Seus mensageiros e sacerdotes cumprem missão que lhes engrandece a visão de vida.
Os aprendizes acerca da realidade divina se fazem por estágios e todos eles são necessários à evolução, o que pode ser feito em sinagogas, igrejas e templos das mais variadas denominações.
É claro que cada um deve se adaptar às conveniências do seu mundo interno que é, em síntese, o mesmo para todos os homens, variando, apenas, nas experiências individuais.
Religioso ou não na ortodoxia humana, o homem tem a religiosidade dentro de si. É aquele sonho que lhe clareia a visão do paraíso e, quando está afastado da realidade única, é aquela saudade, quase imperceptível, que o acompanha, revelando-lhe suas origens.

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