Homenagear Caio de Mello Franco é
uma honra muito grande para nós porque
buscamos trazer de volta a voz de um grande homem que honrou e deu nome maior
a diplomacia brasileira e, sobretudo,
faz-nos lembrar um lídimo mensageiro da poesia revestida de beleza, na forma e
no conteúdo, consagrada no amor que
sentiu pelas musas inspiradoras nos mais
belos jardins de Paris e nas fontes de
Roma, as mesmas fontes imortalizadas na música de Respighi.
Aliás,
de início, vamos dizer abertamente que esse amor, que ele sentia, estava
imantado em tudo e em todos que os cercava e naqueles em que o seu pensamento
abraçava, de longe, alargando os horizontes.
Ei-lo,
estendendo as luzes de seu espírito imortal, em Elegias Romanas, inseridas na
obra “Vida que passa...” (poemas), num roteiro simples e seguro sobre o
intercâmbio das esferas onde transitam, em movimento incessante, as musas
inspiradoras, apreciadas por outras áreas do conhecimento humano, com o nome de
anjos-da-guarda, numes tutelares, espíritos protetores ou deuses-lares, na
famosa conceituação do escritor Fustel de Coulanges, mencionada na obra “La
Cité Antique”.
Na
terceira estrofe do poema A Musa Inspiradora, inserido no canto Elegias
Romanas, Caio de Melo Franco, poeticamente, descreve esse roteiro de amor
sublime entre as esferas material e espiritual.
Toda
a sonoridade das palavras do poema em que ele vagueia pelo umbroso jardim dos
Medicis, sentindo descer dos ramos a paz das paisagens serenas, é música.
Dentro da estrutura musical o cânone: o movimento inicial reaparece no final.
Beleza inefável sustentada por uma leveza sonora e de harmonia em todo o poema,
aliás, em tudo o que escreve o poeta em Vida que passa... (poemas), p. 126.
Typographia do Annuário do Brasil – Rio de Janeiro – 1924.
Em
sintonia de vibrações, revelando o mesmo teor de qualidade, sombra e homem, no
dizer do poeta, caminham juntos usufruindo dos deleites que somente o amor pode
doar: “não preciso falar: sei que adivinhas tudo...”
A
quietude, no íntimo dos personagens reais, vibra suavemente na mesma harmonia
contida na paisagem: “o jardim adormece... E a água canta na fonte.” O diálogo
de vozes íntimas estabelece um clima de conforto e leveza.
Na
contemplação meditativa no jardim dos Medicis, Caio de Mello Franco sente “no
perfume disperso, que o silêncio inebria”, algo que lhe faz pensar nos
sofrimentos humanos. Mas logo percebe a
vibração que o envolve na mesma sintonia revelada no amor que nele vive, a
esparzir um clima reconfortador, uma luz a beijar-lhe as Elegias.
Como
a terapia de vidas passadas, atualmente é a busca de todas as buscas, o crème
de la crème das investigações do autoconhecimento, utilizada por seletos grupos
que se dedicam, gratuitamente, ao labor da caridade, trazemos a prova incontestável da revelação do poeta
sobre o passado espiritual.
Ele
mesmo, no poema A Cidade, declara que veio de longe, atravessou os mares, volta
a antigos lares, tudo lhe é familiar naqueles lugares, menciona o frontão de
parras à votiva coluna, reconhece tranquilo a Sacra Via, a Basílica, o Fórum
augusto, “o templo onde, por bem de Vesta, o fogo ardia...”
Inspirado
em La Vita Nuova, de Dante, Caio de Mello Franco escreveu versos sobre o que
estava escrito em Incipit Vita Nuova, mergulhados no enigma do passado
espiritual. No poema A Hora Antiga, o poeta revela o encontro dos amores, num clima de ternura e de sonhos.
Nesse
encontro, Caio de Mello Franco ressalta todo o enlevo dos amores que se doam,
na permuta de energias, fazendo vir à tona todo um mecanismo que antes era mistério
ou sonho não revelado, a partir do beijo embriagador. O poema finaliza exibindo
cenas pitorescas dos heróis da mitologia grega.
Ainda
dentro do clima das Elegias Romanas, Caio de Mello Franco, iluminado sob a luz
de uma estrela etrusca, escuta a flauta de um pastor trigueiro. Melodia que
traz a idéia de beijos loucos voando, como abelhas, num zumbir de delírios:
“mas meu Pastor prossegue pastoreando os meus olhos, os astros e as ovelhas”.
O
poeta, avisando-nos sobre o juramento da mulher conquistada ou conquistadora,
ouve e não se ilude com o canto das sereias que parecem ter voz nos momentos
mais íntimos.
A
poesia de Caio de Mello Franco, toda ela é feita de ouro dos trigais, com
fermento de filosofia grega, às vezes ambientada em jardins e bosques
encantadores onde vivem silfos, ninfas, náiades e outros entes mitológicos que
se confundem com os seres da natureza.
Na visão esotérica são seres da natureza.
Caio
de Mello Franco escreveu também epigramas votivos, de beleza comovente. Destacamos o que tem por
título Impaciência, escrito numa época
em que estava em voga as mulheres dos
quadros de Renoir, célebre pintor francês. O tipo de beleza, que então se
propalava, mudou. Hoje, a moda é de modelos de corpo magro e esguio. Antes do
advento de 2016, o poeta, nos idos de 1924, se antecipou 92 anos: “Que importa
seres tu tão magra?”
No
poema Laís contém epigramas votivos de beleza espiritual revelando que a mirra
também perfuma e amarga. Os últimos versos do epigrama Laís, do poeta Caio de
Mello Franco, trazem mensagem acolhedora em que se destaca a imagem da luz
beijando os pássaros e os pântanos, num clima em que a luz não se contamina.
Encerrando
nossos singelos comentários acerca da obra Vida que passa ... de Caio de Mello
Franco, destacamos os versos destinados a São Francisco de Assis, o
gênio do amor na natureza, tendo por companhia o irmão Sol e soror Lua.
Nos
idos de 1998, o diplomata Afonso Arinos de Melo Franco, Filho fez referências
sobre o tio Caio de Mello Franco, ao proferir a palestra Afonso Arinos e a
Política Externa, ao ensejo da realização 2° Seminário Banco do Brasil e a
Integração Social, organizado pela Academia de Letras dos Funcionários do Banco
do Brasil, presidida pelo escritor Fernando Pinheiro:
“Em
dezembro de 1952, eu já era diplomata de carreira, e, a convite do ministro de
Estado, acompanhei-o a Lima, onde João Neves da Fontoura iria inaugurar a
Avenida Afrânio de Melo Franco, em memória do estadista brasileiro que evitara
a guerra entre o Peru e a Colômbia, ao solucionar a difícil questão fronteiriça
de Letícia. Caio, primogênito de Afrânio, era embaixador, e Afonso foi também
convidado a integrar a comitiva
ministerial.”
Na
Câmara dos Deputados, sessão de 19/9/1955, o deputado Odilon Braga, em discurso
homenageando o embaixador Caio de Mello Franco, disse que o conheceu no mesmo
ano em que ele publicou Vida que passa... e deu a opinião: “primorosos poemas
reveladores das suas qualidades raras, o seu merecimento de homem sensível,
dado ao ritmo, à harmonia e à beleza.”
Vale
salientar a bibliografia de Caio de Mello Franco em obra poética: Urna (1917),
Vida que Passa... (1924), Cheiro de Terra (1949). Em prosa: Os Trinta e Quatro
contos de meu espírito, sob o pseudônimo de Gildo Brasil (1929), O Parnaso
Obsequioso, O Inconfidente Cláudio Manuel da Costa (1931), Via Latina (1933),
Vida e sonho de Pedro Taques (romance), A fuga dos Deuses (romance).
Ao
finalizar a nossa singela homenagem ao Senhor Embaixador e poeta que se
notabilizou mais como diplomata, ressaltamos que a poesia de Caio de Mello
Franco, apreciada em apenas algumas páginas de comovente beleza de sua intensa
e profunda obra, continua sendo a poesia que honra a literatura brasileira.
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