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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

MADRUGADA, CARNAVAL E CHUVA

Quando o carnaval não tinha esse glamour que hoje tem na passarela da Avenida Marquês de Sapucaí, ideia e obra do governador Brizola, de saudosa memória, o desfile era singelo e doce, mantendo o mesmo charme que o samba tem, desde o tempo em que era apresentado na Avenida Presidente Vargas, na cidade do Rio de Janeiro.
“Molha o surdo, molha o enredo, molha a vida do sambista cujo sonho é triunfar, cai o brilho do sapato do passista, mas o samba tem é que continuar.” [Madrugada, Carnaval e Chuva, de Martinho da Vila]. Apesar de ter entrado em 1965, na ala dos compositores da Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, ano em que compôs este samba, somente em 1967, Martinho da Vila fez o seu primeiro samba-enredo que a Unidos da Vila apresentou na avenida.
No meio da chuva, mesmo com relâmpago e trovoada, o ânimo da escola de samba não desvanece, um simples apito é o suficiente pra animar o pessoal, assim como a bateria é o último componente da escola a sair, samba que leva alegria no meio da avenida e repercutido na passarela. A bateria é a locomotiva e os componentes do grupo os vagões arrastados em simbiose.
A Unidos da Vila Isabel, nos idos de 1965, presidida por Cornélio Cappelletti, com enredo do carnavalesco Gabriel do Nascimento, era composta, em sua maior parte, por operários da construção civil, pedreiros, eletricistas, pintores, além de empregadas domésticas e operárias de fábrica de tecidos.
À época, o fluxo de migração nordestina era intenso: “Rio de Janeiro, cidade que me seduz, de dia falta água e de noite falta luz”, como dizia uma cantiga de 1954. Subir a ladeira em direção ao morro acima, carregando lata d´água na cabeça era a tarefa de milhares de mulheres que moravam nos morros.
O palco de um teatro estava num carro de alegoria onde  bailarinas dançavam e cantavam o samba da Unidos da Tijuca, era o aniversário de 50 anos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Era o tempo de Ruth Lima, em pleno apogeu e glória, onde integrava o corpo de bailes.
Iniciando a apresentação, a repórter Daniela Lobo entrevistou a bailarina Ruth Lima: “Ela é representante de uma das mais antigas manifestações humanas, a dança, considerada pela imprensa etérea e translúcida, eleita em 1959, a primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.” [Perfil Ruth Lima – Bloco 1 – Youtube – 11 de junho de 2012 – Vídeo enviado por TV-ALERJ – Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro – in DUAS BAILARINAS – 11/02/2016 – blog Fernando Pinheiro, escritor].
Nos idos de 1965, o samba-enredo da Unidos de Vila Isabel de Paulinho da Vila contava a epopeia do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Nesse teatro lírico se apresentaram grandes nomes da música, entre os quais destacamos os compositores Stravinski e Richard Strauss, além do tenor italiano Caruso e o orador gaúcho James Darcy que prestou homenagem ao poeta Dante Alighieri, conforme transcrevemos, a seguir, textos da História do Banco do  Brasil, de Fernando Pinheiro:
“Conhecedor profundo da obra do célebre poeta da latinidade, Dante Alighieri, orador que sensibilizava multidões, James Darcy proferiu, nos idos de 1921, na presença de Epitácio Pessoa, presidente da República, e do Corpo Diplomático no Rio de Janeiro, uma conferência em comemoração ao 6° Centenário de Morte de Dante Alighieri, realizado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Na oportunidade, James Darcy ressaltou: “Certo o destino pode semear de urzes o caminho da existência; não, porém, abater a coragem dos heróis, porque há no homem um poder criador de beleza, moral ou espiritual, que a vida, com suas lutas e seus tormentos, não destrói. Antes, na perplexidade e na dor, cresce o espírito, ilumina–se de clarões soberbos a alma.
Não à quietação e à felicidade, mas as angústias e lutas geram as obras–primas. Nenhuma confirmação mais formidável destas verdades do que Dante. (...)
Caminhamos, entre tristezas e misérias, mas a vida impõe deveres, em todas as condições. Por isso, o ânimo é que salva.
Não importa a incerteza do triunfo; mesmo sem ele o combate deve seduzir.
Não há beleza sem devotamento, consagração da vida a um fim superior.” (...)
É a lição de Dante: .... Se tu segui tua stella, Non puoi fallire a glorioso porto. (Inf., XV 55–56)” (28)
(28) JAMES DARCY, presidente do Banco do Brasil (2/1/1925 a 16/11/1926) – Apud Figuras do Banco do Brasil, de Fernando Monteiro – pp. 49 – Rio de Janeiro – 1955. – HISTÓRIA DO BANCO DO BRASIL (1906/2011), de Fernando Pinheiro, obra  disponibilizada ao público na internet pelo site www.fernandopinheirobb.com.br 
A letra do samba Madrugada, Carnaval e Chuva, de Martinho da Vila, tem idéias semelhantes da poesia de Dante Alighieri.

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