Quando o carnaval não tinha esse
glamour que hoje tem na passarela da Avenida Marquês de Sapucaí, ideia e obra
do governador Brizola, de saudosa memória, o desfile era singelo e doce,
mantendo o mesmo charme que o samba tem, desde o tempo em que era apresentado
na Avenida Presidente Vargas, na cidade do Rio de Janeiro.
“Molha
o surdo, molha o enredo, molha a vida do sambista cujo sonho é triunfar, cai o
brilho do sapato do passista, mas o samba tem é que continuar.” [Madrugada,
Carnaval e Chuva, de Martinho da Vila]. Apesar de ter entrado em 1965, na ala
dos compositores da Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, ano em que compôs
este samba, somente em 1967, Martinho da Vila fez o seu primeiro samba-enredo
que a Unidos da Vila apresentou na avenida.
No
meio da chuva, mesmo com relâmpago e trovoada, o ânimo da escola de samba não
desvanece, um simples apito é o suficiente pra animar o pessoal, assim como a
bateria é o último componente da escola a sair, samba que leva alegria no meio
da avenida e repercutido na passarela. A bateria é a locomotiva e os
componentes do grupo os vagões arrastados em simbiose.
A
Unidos da Vila Isabel, nos idos de 1965, presidida por Cornélio Cappelletti,
com enredo do carnavalesco Gabriel do Nascimento, era composta, em sua maior
parte, por operários da construção civil, pedreiros, eletricistas, pintores,
além de empregadas domésticas e operárias de fábrica de tecidos.
À
época, o fluxo de migração nordestina era intenso: “Rio de Janeiro, cidade que
me seduz, de dia falta água e de noite falta luz”, como dizia uma cantiga de
1954. Subir a ladeira em direção ao morro acima, carregando lata d´água na
cabeça era a tarefa de milhares de mulheres que moravam nos morros.
O
palco de um teatro estava num carro de alegoria onde bailarinas dançavam e cantavam o samba da
Unidos da Tijuca, era o aniversário de 50 anos do Theatro Municipal do Rio de
Janeiro. Era o tempo de Ruth Lima, em pleno apogeu e glória, onde integrava o
corpo de bailes.
Iniciando
a apresentação, a repórter Daniela Lobo entrevistou a bailarina Ruth Lima: “Ela
é representante de uma das mais antigas manifestações humanas, a dança,
considerada pela imprensa etérea e translúcida, eleita em 1959, a primeira
bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.” [Perfil Ruth Lima – Bloco 1
– Youtube – 11 de junho de 2012 – Vídeo enviado por TV-ALERJ – Assembleia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro – in DUAS BAILARINAS – 11/02/2016 –
blog Fernando Pinheiro, escritor].
Nos
idos de 1965, o samba-enredo da Unidos de Vila Isabel de Paulinho da Vila
contava a epopeia do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Nesse teatro lírico
se apresentaram grandes nomes da música, entre os quais destacamos os
compositores Stravinski e Richard Strauss, além do tenor italiano Caruso e o
orador gaúcho James Darcy que prestou homenagem ao poeta Dante Alighieri,
conforme transcrevemos, a seguir, textos da História do Banco do Brasil, de Fernando Pinheiro:
“Conhecedor
profundo da obra do célebre poeta da latinidade, Dante Alighieri, orador que
sensibilizava multidões, James Darcy proferiu, nos idos de 1921, na presença de
Epitácio Pessoa, presidente da República, e do Corpo Diplomático no Rio de Janeiro,
uma conferência em comemoração ao 6° Centenário de Morte de Dante Alighieri,
realizado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Na
oportunidade, James Darcy ressaltou: “Certo o destino pode semear de urzes o
caminho da existência; não, porém, abater a coragem dos heróis, porque há no
homem um poder criador de beleza, moral ou espiritual, que a vida, com suas
lutas e seus tormentos, não destrói. Antes, na perplexidade e na dor, cresce o
espírito, ilumina–se de clarões soberbos a alma.
Não
à quietação e à felicidade, mas as angústias e lutas geram as obras–primas.
Nenhuma confirmação mais formidável destas verdades do que Dante. (...)
Caminhamos,
entre tristezas e misérias, mas a vida impõe deveres, em todas as condições.
Por isso, o ânimo é que salva.
Não
importa a incerteza do triunfo; mesmo sem ele o combate deve seduzir.
Não
há beleza sem devotamento, consagração da vida a um fim superior.” (...)
É
a lição de Dante: .... Se tu segui tua stella, Non puoi fallire a glorioso
porto. (Inf., XV 55–56)” (28)
(28)
JAMES DARCY, presidente do Banco do Brasil (2/1/1925 a 16/11/1926) – Apud
Figuras do Banco do Brasil, de Fernando Monteiro – pp. 49 – Rio de Janeiro –
1955. – HISTÓRIA DO BANCO DO BRASIL (1906/2011), de Fernando Pinheiro, obra disponibilizada ao público na internet pelo
site www.fernandopinheirobb.com.br
A
letra do samba Madrugada, Carnaval e Chuva, de Martinho da Vila, tem idéias
semelhantes da poesia de Dante Alighieri.
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