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sábado, 18 de agosto de 2012

NOVAS MELODIAS

        No transplante de árvore o solo fica revirado, ameaçando a estabilidade daquelas que cresceram juntas as que estão sendo removidas.

        Na separação de casais há um clima de desconforto. Tudo parece estar fora do lugar, os objetos de cozinha na sala, o sofá no banheiro, a cama no corredor.

        Aqueles que se acostumaram com o livro na estante, o pão à mesa, o banho quente nos dias frios, a palavra e o carinho envolvendo toda uma família, sabem que esse paraíso sonhado está se desvanecendo como as brumas ao alvorecer.

        Rajadas de ventos fortes também derrubam os ninhos. Mas o canto dos pássaros prossegue alegrando a mata e entoará novas melodias nos ninhos que serão construídos.

        O instinto das aves acompanha o ciclo do tempo, no calor e no frio, refazendo hábitos que se adaptam ao momento em que vivem. A harmonia dos seus impulsos vem do envolvimento completo que tem com a natureza.

        O presente, o passado e o futuro se interligam. Tudo é questão de tempo. No presente há a energia que foi trabalhada nos campos da emoção e da sensibilidade elevada, a nível de inspiração pura, que se misturam para criar situações novas.

        As árvores crescem, ganham novos galhos, novas folhas, novas flores, mas a seiva é sempre a mesma que as sustenta desde as primeiras horas do nascimento.

        No reino humano cada criatura possui energias que identificam o seu viver e, dentro da ampliação de seus movimentos, permanecem em suas características próprias.


        É justamente nessas energias que surgem os talentos, as aptidões para realizar trabalhos que envolvem habilidade e precisão. A vocação é o chamamento dessas energias aos seus devidos lugares.

        Nos campos do sentimento somos tocados pelos encantos da mulher, que são armas poderosas, bombas inteligentes que filmam alvos. A energia trabalhada nos gestos da ternura e meiguice atinge pontos estratégicos que abalam qualquer fortaleza.

        O caso é mais complicado porque nessa área não nos interessa a defesa, mas a entrega do corpo e alma que decide a união com a parte que completa nosso ser, roubando a cena pertencente ao outro protagonista.

        Nesse envolvimento que nos leva à paixão não pensamos que estamos criando ninhos em árvores alheias. Depois, num futuro imprevisto, não poderemos lamentar os ventos fortes que derrubam ninhos.

        Há ainda no envolvimento familiar o compromisso assumido perante o tempo que ficou distante em algum lugar do passado. As energias que o casal traz necessitam se ampliar como a seiva que se expande nos ramos que crescem.

        Na muda das plantas o sangue verde continua alimentando as células que se reproduzem em novas folhas aumentando a rede de ramos.

        Na separação de casais é preciso ter muito cuidado para não deixar as marcas do vento forte sobressair diante de tanta ternura, tanto amor vivido juntos nos dias em que tudo era primavera risonha.


        Por que não imitar os pássaros quando seus ninhos são destruídos? Há um canto de novas melodias naqueles que veem o sol surgir a cada amanhecer.


Blog Fernando Pinheiro, escritor


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