O
ciclo das Sete Líricas tem um roteiro estabelecendo variações sobre um tema esplendidamente
lírico na música e intensamente
rico na expressão poética de Oneyda
Alvarenga (1911/1984), membro da
Academia Brasileira de Música, que faz
par, com Francisco Mignone, na autoria
do referido ciclo.
Na primeira lírica, a letra expõe sentimentos
de amor da mulher
que revela o
seu desejo de
cair na vida
dele como um pingo de chuva
numa flor e ser um vago perfume
de rosas que
entra por uma
janela escancarada.
Ela percebeu
o interesse de seu amado
pelo perfume dela,
embriagando-o. O recato
feminino faz com
que ela o
sugere algo diferente
em seu coração:
“antes fechasses a janela
e esquecesses o
rosal em florescência...” A
música tem o
movimento muito calmo,
porém molto.
Na segunda
e terceira líricas,
ela o esperou
na hora silenciosa,
estendendo-lhe os braços,
sentindo a leveza
em sua boca, entreaberta para o
beijo que a distância lhe rouba, e
percebe a ternura que está criando num momento de solidão. Ela quisera ter o voo da andorinha
e se imagina voando para alcançar o céu,
a mocidade, a vida! Na música
o movimento andantino, com
lassidão.
Na quarta e quinta líricas, ela sentiu, no voo imaginário, o vento arrepiando volúpias pelos ares,
braços que a enlaçam sem beijos que
a beijassem, são amores dos sentidos
que a alma ainda não sente
em profundidade, falta-lhe
o calor como
no coração das
andorinhas cortando as nuvens. Os movimentos da música: um pouco
solene (quarta) e allegro
vertiginoso (quinta).
Surge a sexta lírica. Passa o
tempo, passam as desilusões, os amores
desfeitos, o vento foi rasgado. Ela, queimada pelo sol – experiências
acumuladas de amores vividos e
sonhados –, corre
impelida pelo novo
ritmo que sente, harmonia de seus vinte anos
revestindo-lhe o ser, correndo até
cair sob a luz
do sol e
do perfume que
a faz sentir
mais doce e terna.
O movimento musical
é agitado e
com grande entusiasmo.
No último ciclo das Sete Líricas, o pensamento da mulher amada voa a esferas sublimadas pelo
amor e vê as paisagens em seu ser
mais profundo serem
transformadas em recantos
paradisíacos, onde o amor tem uma conotação
de grandeza mais elevada que as aspirações humanas que ainda estão na 3ª
dimensão dissociada. O movimento da
sétima lírica é
tranquilamente, pianíssimo, e molto
legato.
Agora, não mais
existe a solidão,
a espera, cheia
de ternura, por seu amado. O sentido que ora vigora e revigora, nesta
hora, é o
da unidade, conjugada
ao novo ritmo
do mundo. Ela
sente vontade de
abraçar homens e
coisas num mesmo
abraço irmão!
Blog Fernando Pinheiro, escritor
Site www.fernandopinheirobb.com.br
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