Páginas

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

SETE LÍRICAS

    A música Sete Líricas, de Francisco Mignone foi escrita,  em  27  de  dezembro  de  1966,  na cidade  do  Rio  de  Janeiro.

        O ciclo das Sete Líricas tem um roteiro estabelecendo  variações sobre um tema esplendidamente lírico na música       e intensamente rico na expressão poética de Oneyda    Alvarenga (1911/1984), membro da Academia Brasileira de  Música, que faz par, com Francisco Mignone, na autoria         do  referido  ciclo.

         Na primeira lírica, a letra expõe sentimentos de amor     da  mulher  que  revela  o  seu  desejo  de  cair  na   vida  dele     como um pingo de chuva numa flor e ser um vago perfume     de  rosas  que  entra  por  uma   janela   escancarada. 

       Ela  percebeu  o   interesse  de  seu  amado  pelo  perfume  dela,  embriagando-o.  O  recato  feminino  faz  com  que  ela  o  sugere  algo  diferente  em  seu  coração:  “antes  fechasses  a janela  e  esquecesses  o  rosal  em  florescência...”  A  música   tem  o  movimento  muito  calmo,  porém  molto.

        Na  segunda  e  terceira  líricas,  ela  o  esperou  na  hora  silenciosa,  estendendo-lhe  os  braços,  sentindo  a  leveza  em  sua boca, entreaberta para o beijo que a distância lhe rouba,    e percebe a ternura que está criando num momento de   solidão. Ela quisera ter o voo da andorinha e se imagina  voando para alcançar o céu, a mocidade, a vida! Na música       o  movimento  andantino,  com  lassidão.

       Na quarta e quinta líricas, ela sentiu, no voo imaginário,     o vento arrepiando volúpias pelos ares, braços que a      enlaçam sem beijos que a beijassem, são amores dos      sentidos que a alma ainda  não  sente  em  profundidade,   falta-lhe  o  calor  como  no  coração  das  andorinhas  cortando  as nuvens. Os movimentos da música: um pouco solene  (quarta)  e  allegro  vertiginoso  (quinta). 

        Surge a sexta lírica. Passa o tempo, passam as   desilusões, os amores desfeitos, o vento foi rasgado. Ela, queimada pelo sol – experiências acumuladas de amores  vividos  e  sonhados  –,  corre  impelida  pelo  novo  ritmo  que  sente, harmonia de seus vinte anos revestindo-lhe o ser,  correndo  até  cair  sob a  luz  do  sol  e  do  perfume  que  a  faz  sentir  mais  doce  e terna.  O  movimento  musical  é  agitado    e  com  grande  entusiasmo.

         No último ciclo das Sete Líricas, o pensamento da    mulher amada voa a esferas sublimadas pelo amor e vê as  paisagens  em  seu  ser  mais  profundo  serem  transformadas    em recantos paradisíacos, onde o amor tem uma conotação     de grandeza mais elevada que as aspirações humanas que ainda estão na 3ª dimensão dissociada. O movimento da   sétima  lírica  é  tranquilamente,  pianíssimo,  e  molto  legato.

        Agora,  não  mais  existe  a  solidão,  a  espera,   cheia       de ternura, por seu amado. O sentido que ora vigora e        revigora,  nesta  hora,  é  o  da  unidade,  conjugada  ao  novo  ritmo  do  mundo.  Ela  sente  vontade  de  abraçar  homens  e   coisas  num  mesmo  abraço  irmão!


Blog  Fernando Pinheiro, escritor
Site   www.fernandopinheirobb.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário