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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

CANÇÕES DE AMOR

         Escritas nos idos de 1958, as três músicas Em algum   lugar, Ouve o Silêncio e Acalanto da Rosa, de Cláudio Santoro,  trazem os versos de Vinícius de Moraes, e integram o ciclo  Canções  de  Amor.

        A música Em algum lugar começa dentro do movimento  andante, a letra é revestida da esperança de haver algum    lugar  onde  o  amor  possa  ser  vivido  em  paz.

        A canção Ouve o Silêncio do ciclo Canções de Amor,        como é óbvio, estende uma atmosfera sussurrante quase silenciosa, a expressar um segredo de um amor, em      aparente  solidão,  a  cantar  a  beleza  de  viver.

        A terceira música do ciclo tem por título Acalanto da      Rosa que expressa o dormir da estrela no céu, o dormir da   rosa no jardim e o dormir do amor de quem o faz dormir.          O texto cita a frase: “é preciso pisar leve”, fazendo–nos     lembrar a canção O bilhete, de Jair Amorim e Evaldo      Gouveia, na voz do cantor Altemar Dutra: “quando chegares,  viu,  pisa  bem  devagar  que  a  minha  dor  dormiu.” 

        Os  versos  do  poeta  Vinícius de Moraes começam,  na  primeira canção, falando-nos da possibilidade da existência     de algum lugar onde o amor possa viver em paz. Realmente,      é  muito  difícil  se  encontrar,  neste  planeta, um  recanto  que  esteja  em  eterna  primavera.

        Mas sempre existe àqueles que trazem o amor no    coração,  um lugar de paz onde se pode viver o amor e ser    feliz, bem feliz. A felicidade, que semearmos, será a mesma    que iremos receber de volta, embora tenha percalços para chegar ao ponto em que desejaríamos. Uma simples visão do    caminho que buscamos já é o suficiente para estarmos bem  com  a  vida.

        Na  segunda  música,    um  convite  para  ouvirmos  o  silêncio que fala do amor triste que não pode acontecer entre um casal. Os motivos dos amores impossíveis são muitos          e  alguns  deles  permanecem  em  segredos  insondáveis.

        A  canção,  logo  de  início,  diz  para  não  falar  e,  um  instante depois, pede para falar bem de leve, dizer bem  baixinho  de  um  segredo  e  um  verso  cheio  de  esperança  no  amor  que  eles  sentem.  Antes  que  a  amada  possa  manifestar algum desencanto, ele se antecipada, impedindo-a:   “não”.

        Em seguida, ele a incentiva a cantar a beleza de viver,  fazendo uma saudação ao Sol e a alegria de amar, mesmo       na aparente solidão. Se há um vínculo de amor, sustentado   por pensamentos intensos e profundos, a separação é      apenas  física e não emocional. Não há motivos para tristeza.    O  amor  é  o  cântico  que  persiste.

        Pensar no Sol, em forma de saudação, é muito salutar,  pois  a  energia,  que  dele  se  derrama,  pode  envolver-nos,  a qualquer hora, de dia ou de noite, em fortes emanações  etéricas. O pensamento em direção as conquistas maiores         um  sentido  maior  em  nossa  vida  e ajuda-nos  a  ficar  mais confiantes no caminhar. Lindas imagens ideoplásticas, que o cérebro cria, facilitam a contemplação da beleza ao      nosso  alcance.

        De efeito semelhante, podemos, sem buscar nenhum   meio exótico, atrair pelo pensamento as energias que emanam  de paisagens conhecidas: o deserto do Saara, as savanas africanas, as nascentes do rio Nilo, os Alpes franceses ou suíços, os fiordes escandinavos, as florestas eslavas, as paisagens polares, o pantanal mato-grossense, as cachoeiras  do  Iguaçu,  os  igarapés  da  Amazônia,  as  areias  dos  lençóis  maranhenses, em Araioses e Barreirinhas, e também na  própria  ilha  de  São  Luís  nas  dunas  da  praia  de  Araçagi.   

        No Acalanto da Rosa o pensamento de Vinícius de Moraes segue em direção da estrela, da rosa, da lua e do amor         para revelar que há sono. Há, também, como vimos, um       sutil alerta: “é preciso pisar leve, aí é preciso não falar”. 

        Quando  a  amada  adormece  o  perfume  dela  é  suave  e  ele   a compara a rosa pura dentro de um sono que, devido à     longa  espera,  supomos,  não  tem  fim.  Pois,  do  contrário,  iríamos reconhecer a morte ou a própria vida ressurgida         em  outra  dimensão  maior.     

Blog  Fernando Pinheiro, escritor

Site   www.fernandopinheirobb.com.br

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