Sem mencionar as repetições da
palavra “Samba-le-lê” contidas no
início, no meio e no final da canção, a letra da música,
é de autoria
de Wilson W.
Rodrigues (1916/1979), patrono da Cadeira n° 50 da Academia de Letras dos
Funcionários do Banco
do Brasil.
Nas vozes
do canto é
apresentado um pedido
à baiana para
participar do jogo
da sedução. Samba-le-lê
é a expressão
mais cantada por
todos os participantes
do coro.
O solista
começa entoando o
nome-título Samba-le-lê, durante
6 vezes e, no ritual do vestir o traje feminino típico da Bahia, faz o pedido à baiana para
deixar amarrar a trunfa (turbante),
calçar as sandálias e botar o colar. Há
um clima de
preparação para a
dança. No meio
e no final
da canção: samba-le-lê,
samba-le-lê, samba-le-lê, samba-le-lê,
samba-le-lê, samba-le-lê.
Seguindo a mesma trajetória, início,
meio e fim do canto em que são
entoadas as 6
repetições do nome- título
Samba-le-lê, contidas
nas partes do
solista, do tenor
e do barítono, o contralto entra em cena fraseando a tessitura:
“ó baiana, ó
baiana, ó baiana,
uê! deixa botar
mau olhado, deixa
fazer meu feitiço,
deixa ser teu bem-querer, até
a aurora nascer”.
Dentro do clima de amor, as palavras
ganham o colorido que
o sentimento reveste,
assim um mau
olhado pode ser um bom olhado, um
feitiço um encantamento porque o
personagem da letra
quer ser, até
o sol raiar,
o bem-querer da
baiana.
As
palavras do tenor invertem o ritual do solista. Há um clima mais íntimo, possivelmente após a
dança ou mesmo no meio, em
que o desejo
sexual é claramente
manifestado: “Ó baiana, ó baiana,
ó baiana, deixa tirar tua bata, deixa
pegar nos teus
seios, deixa teu
negro sorrir, deixa
ao teu lado
dormir.”
É uma
forte revelação de
amor, sem dúvida
deve já ter
existido por parte
da mulher amada
uma troca do desejo em gestos femininos que seduzem.
Basta um olhar derramado de
ternura, um suave
meneio de seios,
um penteado gracioso,
um mexer de
mãos nos cabelos
compridos, um encolher de
ombros, um suspiro,
um gesto que
oferece os lábios
vermelhos, e a
conquista se completa.
Dentro
da bata os seios ficam ao sabor da respiração que se revela no estado emocional:
trêmula como se toda uma fortaleza
estivesse prestes a cair, os condicionamentos
que fizeram a mulher se reprimir, nesses momentos parecem nulos. O importante é a entrega, o doar-se.
Meneios de seios se agitam nos
movimentos da ansiedade, como também são
sutis quando ela caminha pela rua. O decote da roupa feminina
decora sonhos masculinos.
A
participação do barítono revela uma declaração de amor revestida do pedido de carinhos não tão
íntimo como a do tenor: tirar o turbante, pegar nos pés
(hoje uma expressão largamente usada
na perseguição amorosa), beijar o
colo. Poeticamente, são doces afagos que promovem a ternura
e a intimidade
maior que está a caminho.
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