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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

SAMBA-LE-LÊ

         Destinada para coro misto a 4 vozes (solo, contralto, tenor e barítono) a música Samba–Le–Lê, de Francisco   Mignone,  foi  escrita  em  1951.

       Sem mencionar as repetições da palavra “Samba-le-lê”  contidas no início, no meio e no final da canção, a letra da  música,  é  de  autoria  de  Wilson  W.  Rodrigues  (1916/1979), patrono da Cadeira n° 50 da Academia de Letras dos Funcionários  do  Banco  do  Brasil.

        Nas   vozes   do   canto   é   apresentado   um   pedido  à  baiana  para  participar  do  jogo  da  sedução.  Samba-le-lê   é  a  expressão  mais  cantada  por  todos  os  participantes  do   coro.

        O  solista  começa  entoando  o  nome-título  Samba-le-lê, durante 6 vezes e, no ritual do vestir o traje feminino típico     da Bahia, faz o pedido à baiana para deixar amarrar a       trunfa (turbante), calçar as sandálias e botar o colar. Há        um  clima  de  preparação  para  a  dança.  No  meio  e  no  final  da  canção:  samba-le-lê,  samba-le-lê,  samba-le-lê,  samba-le-lê,  samba-le-lê,  samba-le-lê.

        Seguindo a mesma trajetória, início, meio e fim do      canto  em  que  são  entoadas  as  6  repetições  do  nome- título  Samba-le-lê,  contidas  nas  partes  do  solista,  do  tenor  e do barítono, o contralto entra em cena fraseando a     tessitura:  “ó  baiana,  ó  baiana,  ó  baiana,  uê!  deixa  botar       mau  olhado,  deixa  fazer  meu  feitiço,  deixa  ser  teu bem-querer,  até  a  aurora  nascer”.             

        Dentro do clima de amor, as palavras ganham o      colorido  que  o  sentimento  reveste,  assim  um  mau  olhado  pode ser um bom olhado, um feitiço um encantamento     porque  o  personagem  da  letra  quer  ser,  até  o  sol  raiar,  o  bem-querer  da  baiana.

        As palavras do tenor invertem o ritual do solista. Há um   clima mais íntimo, possivelmente após a dança ou mesmo        no  meio, em  que  o  desejo  sexual  é  claramente  manifestado:  “Ó baiana, ó baiana, ó baiana, deixa tirar tua bata, deixa    pegar  nos  teus  seios,  deixa  teu  negro  sorrir,  deixa  ao  teu   lado  dormir.”

        É  uma  forte  revelação  de  amor,  sem  dúvida  deve    ter  existido  por  parte  da  mulher  amada  uma   troca  do desejo em gestos femininos que seduzem. Basta um olhar   derramado   de  ternura,  um  suave  meneio  de  seios,  um  penteado   gracioso,   um    mexer   de   mãos   nos   cabelos  compridos,  um  encolher  de  ombros,  um  suspiro,  um  gesto  que  oferece  os  lábios  vermelhos,  e  a  conquista  se  completa.

        Dentro da bata os seios ficam ao sabor da respiração      que se revela no estado emocional: trêmula como se toda      uma fortaleza estivesse prestes a cair, os condicionamentos   que fizeram a mulher se reprimir, nesses momentos parecem  nulos. O importante é a entrega, o doar-se. Meneios de seios    se agitam nos movimentos da ansiedade, como também são   sutis quando ela caminha pela rua. O decote da roupa   feminina  decora  sonhos  masculinos.

        A participação do barítono revela uma declaração de   amor revestida do pedido de carinhos não tão íntimo como  a  do tenor: tirar o turbante, pegar nos pés (hoje uma      expressão largamente usada na perseguição amorosa), beijar    o colo. Poeticamente, são doces afagos que promovem a   ternura  e  a  intimidade  maior  que  está  a  caminho.


Blog  Fernando Pinheiro, escritor
Site   www.fernandopinheirobb.com.br

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