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sábado, 4 de agosto de 2012

TU E O VENTO

        No movimento lento, com simplicidade e vivo, a      música Tu e o Vento, do maestro e compositor Edino Krieger, escrita em 02 de maio de 1954, em Teresópolis-RJ, traz a     letra  de  Adelmar  Tavares.

        Advogado do Banco do Brasil (1925/1930), Adelmar  Tavares  foi  eleito,  em  1924,  para  a  Academia  Brasileira  de Letras, presidindo-a em 1948. No período 1948/1950, ocupa        o cargo de presidente do Tribunal de Justiça do Estado do     Rio de Janeiro.

        Nos idos de 1960, o poeta pernambucano, durante o        1° Congresso Nacional de Trovadores e Violeiros, é aclamado          “o rei da trova brasileira”, até hoje insuperável, com apoio do  poeta e trovador Walter Waeny (1924/2006) (Cadeira n° 40, patronímica de Rodrigues Crespo, da Academia de Letras dos  Funcionários  do  Banco  do  Brasil).

        O poeta da canção descreve um momento passado na  praia:  o  vento  e  a  mulher  sentada  na  areia  iniciam  um  envolvimento amoroso. O olhar dela se espalha pela distância  afora e vê, ao longe, velas que brincam perdidas na esteira      do mar, alto mar. Sem imaginarmos o que se passa num  minúsculo ponto no horizonte de águas, pensamos que tudo      distante  são  brincadeiras  flutuantes  como  as  marés  que   vem  e  vão.

        A conquista amorosa diante da mulher é a mesma que  temos  com  as  aves e  os  animais.  Um  olhar,  um  gesto  mal  direcionado pode afugentá-los para bem longe de nós. Tudo depende da forma como exteriorizamos nossos sentimentos,   pois a aproximação tem que ser natural e espontânea, como     os gestos do amor à primeira vista. Os domadores de animais  sabem  o  que  eles  querem,  e  entram  nessa  onda  do  querer  em  comum,  atingindo até um  clima  de afinidade  de  gostos.

        A mulher, naquela época, educada para o decoro social,  tinha restrições sobre a liberdade e, até mesmo liberta dos  preconceitos ainda se sentia, dentro de si, presa a  condicionamento de atitudes imposto pela sociedade. Até     hoje  no  mundo  islâmico,  a  mulher  tem  severas  restrições   no  comportamento  social.

        Livre no andar e no pensar, igualando-se em condições  idênticas ao homem na vida moderna, a mulher da canção      foi   à   praia   para   tomar   banho   de   sol   e    de    mar.   O  vento a envolveu no enlevo dos amantes, sacudindo seus cabelos, acariciando seus ombros, até mesmo amenizando   pensamentos.

        Ela  entrou  em  conflito  íntimo,  sentia  a  suavidade  do   vento,  ao  mesmo  tempo  a  invasão  de  algo  impetuoso  em  seu  corpo,  como  se  fosse  um  príncipe  ousado,  atrevido  e   conquistador,  no  dizer  do  poeta  pernambucano.

        Ela ficou amuada, desligou-se da contemplação das    velas distantes no mar afora e prendeu os cabelos, prendeu     os vestidos, a nudez fugiu-lhe da imaginação, ao mesmo    tempo sentiu-se seduzida, envolvida pelo vento que a tornava   mais  mulher.

        Por analogia, a mulher conquistada é a pantera que         se deixa ser domada e levada aos carinhos que a confortam    ou, numa linguagem mais  singela, é a garça que vem beber água  nas  mãos  de  quem  ela  viu  inocência.

Blog Fernando Pinheiro, escritor
Site  www.fernandopinheirobb.com.br

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