Odeon é tocado ao piano na armadura de Mi
Maior, com 4 sustenidos (fá, dó,
sol e ré sustenidos) no compasso binário
que denota a característica de um tango e se expressa num clima caliente seguindo a trajetória musical: gingando, medianamente
forte, expressivo, sempre crescendo, diminuindo, expressivo, diminuindo,
fortíssimo, com brilho, menos fortíssimo,
mimoso, forte e ritenuto.
A
letra da música é de autoria de Humberto Maurício que fala da saudade dos matinais e dos
vesperais no Cine Odeon, no Rio de
Janeiro. Na sala de projeção, filmes de
faroeste, e no
saguão o pianista
distraía os frequentadores tocando tangos, choros brejeiros, valsas
lentas bem dolentes.
Os cavalheiros e
as damas se aproximavam, emocionados,
olhando uns aos
outros, com vontade
de dançar, ou
quase dançando. A
letra fala do
modo de conquistar
uma donzela.
Os
antigos “torpedos” eram “bilhetes” que passavam voando das mãos do conquistador para as da
sua amada. Temos notícias de que esses recados por escrito ainda são usados em
casas noturnas onde há grandes concentrações de jovens que buscam se divertir. É mais
uma “paquera” inocente do
que o encontro
programado de casais.
Esse costume
se expandiu ainda
nos dias de hoje,
em forma de cartões-de-visita, utilizados também na identificação de
autoridades, ou prestadores
de serviços que
divulgam suas atividades.
Os filmes
de ontem são
os mesmos de
hoje: “soco, tapa,
ponta-pé, bofetão”. A
violência já denotava, naquela época, sinais de escalada,
em acontecimentos aparentemente
inocentes. A plateia, em coro, gritava: “pega, bate, pisa, mata, mata
esse grande “vilão!”
A
saturação desses momentos agitados era abafada pela presença do pianista que tocava,
após o término das sessões as músicas brejeiras e as músicas dolentes. O
efeito era surpreendente: “num repente
ao pianista vão cercando, se chegando,
quase, quase a
dançar, Ah!... (bis)”.
Assim
como a música tocada pelo pianista fazia desaparecer os gritos da plateia no
cinema, não devemos peso e referência a
notícias revestidas na densa dimensão trina que está indo embora do planeta.
Vamos deixar seguir tudo aquilo que
não nos diz
respeito.
Blog Fernando Pinheiro, escritor
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