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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

ODEON

            A música Odeon, de Ernesto Nazareth, foi  escrita  para  piano.  Na  quarta  capa  da  partitura,  editada  por  Mangione  & Filhos, a música é igualmente destinada para violão    (acompanhamento)  e  canto.

        Odeon é tocado ao piano na armadura de Mi Maior,       com 4 sustenidos (fá, dó, sol e ré sustenidos) no compasso  binário que denota a característica de um tango e se      expressa num clima caliente seguindo a trajetória musical: gingando, medianamente forte, expressivo, sempre crescendo, diminuindo, expressivo, diminuindo, fortíssimo, com brilho,  menos  fortíssimo,  mimoso,  forte  e  ritenuto.

        A letra da música é de autoria de Humberto Maurício       que fala da saudade dos matinais e dos vesperais no Cine  Odeon, no Rio de Janeiro. Na sala de projeção, filmes de  faroeste,  e  no  saguão  o  pianista  distraía  os  frequentadores  tocando tangos, choros brejeiros, valsas lentas  bem  dolentes.

Os cavalheiros e as damas se aproximavam, emocionados,  olhando  uns  aos  outros,  com  vontade  de  dançar,  ou  quase  dançando.  A  letra  fala  do  modo  de  conquistar  uma donzela.

        Os antigos “torpedos” eram “bilhetes” que passavam   voando das mãos do conquistador para as da sua amada. Temos notícias de que esses recados por escrito ainda são usados em casas noturnas onde há grandes concentrações      de jovens que buscam se divertir. É mais uma “paquera”    inocente  do  que  o  encontro  programado  de  casais.

        Esse  costume  se  expandiu  ainda  nos  dias  de hoje,  em forma de cartões-de-visita, utilizados também na identificação  de  autoridades,  ou  prestadores  de  serviços  que  divulgam   suas   atividades.

        Os  filmes  de  ontem  são  os  mesmos  de  hoje:  “soco,  tapa,  ponta-pé,  bofetão”.  A  violência    denotava, naquela época, sinais de escalada, em acontecimentos aparentemente  inocentes. A plateia, em coro, gritava: “pega, bate, pisa, mata,   mata  esse  grande  “vilão!”

        A saturação desses momentos agitados era abafada      pela presença do pianista que tocava, após o término das sessões as músicas brejeiras e as músicas dolentes. O efeito   era surpreendente: “num repente ao pianista vão cercando,       se  chegando,  quase,  quase  a  dançar,  Ah!...   (bis)”.

        Assim como a música tocada pelo pianista fazia desaparecer os gritos da plateia no cinema, não devemos peso  e referência a notícias revestidas na densa dimensão trina que está indo embora do planeta. Vamos deixar seguir tudo aquilo que  não  nos  diz  respeito.  

Blog  Fernando Pinheiro, escritor

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