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domingo, 12 de agosto de 2012

INTERIOR

    Muito  tranquilo,  suave,  medianamente  forte,  a  tempo  e pianíssimo são os principais movimentos da música       Interior destinada para canto e piano, de autoria de Helza   Camêu (1903/1995), escrita em 1968, com a letra de     Onestaldo  de  Pennafort.

        A compositora distinguida, em 1936, com o 2° lugar no concurso para quarteto de cordas promovido pelo Departamento Municipal de Cultura de São Paulo, e, com a apresentação do  poema sinfônico Suplício de Felipe dos Santos, alcançou o 1°  lugar no concurso realizado, nos idos de 1944, pela Orquestra  Sinfônica  Brasileira.

        Helza Camêu, compositora de obras românticas,    escreveu músicas de câmara, instrumental e vocal, entre as quais, destacamos: Amar, p/canto e piano, 1942; Ao mar, opus 8, p/canto e piano, 1941; Eterna incógnita, p/canto e piano, 1928, Silêncio p/ canto e piano, 1934, sendo que o original da partitura da música Interior, dedicada ao poeta Onestaldo Pennafort, faz parte do acervo da Academia de Letras dos  Funcionários  do  Banco  do  Brasil. 

        O  início  da  letra  da  música  Interior  é  uma  entrega  de presente:

“Eu te trago, ainda frescas e orvalhadas da noite e do silêncio das estradas ermas, por onde vim com o pensamento cheio de ti e de arrependimento, estas     flores  silvestres...”

        Melhor do que mandar flores é entregá-las à mulher    amada, principalmente quando estão frescas e orvalhadas    pela noite e pelo silêncio das estradas ermas por onde o poeta   passou.       

        Há todo um ritual, uma cerimônia, o colher as flores  silvestres, envolvendo-as com pensamentos de amor, que    serão tocadas pelas mãos da mulher amada, guardadas       febril e ansiosamente, por ele, nos sonhos de espera e de  arrependimento,  revestidos  de  ternura.

        Hoje, em dia, temos o uso do cartão no envio de flores       à pessoa amada. Mas, no passado ainda não distante, o remetente confiava mais no clima de amor manifestado:      eram pensamentos que falavam, sem palavras, como bocas  entreabertas à espera do beijo, no perfume forte das flores     que  a  sua  amada  iria  aspirar.

        As flores iriam lembrar a noite harmoniosa que cobriu,   com  o  manto  das estrelas, o esquecimento e  fez surgir o  silêncio  e  as  horas  interiores  que  falam  de  ternura.

        A  esperança  cresce  quando  o  poeta  pensa  que  ela,      ao  aspirar  as  flores,  irá  ouvir  um  farfalhar  de  folhas,  um   zumbido de asas, uma sensação gostosa de água fresca e       um olhar suave que perdoa. Era, sem dúvida, um momento     de  reconciliação,  tão  difícil  nos  momentos  atuais.
 

Blog  Fernando Pinheiro, escritor
Site   www.fernandopinheirobb.com.br

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