Flores atiradas ao deserto por caravanas que passam apressadas. Suas
cargas estão pesadas de coisas supérfluas. São necessárias ao consumo
transitório, mas não têm proveito no destino da viagem.
O tempo vai fenecendo
as flores desprendidas de suas raízes. Chegará um momento em que essas flores
virarão adubos fertilizando as searas, mesmo que se encontrem em terrenos
desérticos.
No campo humano, há
aridez dos sentimentos quando desprezam anjos solitários em tenra idade, a
vagar pelas ruas, vendendo limões, balas de açúcar, limpando pára-brisas de
outras caravanas, nos sinais de trânsito, ou ingressando, por vítimas do erro
adulto, no mundo do crime.
Segundo informação
divulgada numa entrevista levada ao ar, em 14 de setembro de 2002, pela Rádio
Catedral FM, são mortos, anualmente, 3.000 menores no tráfico de drogas na
cidade do Rio de Janeiro.
Não obstante as
vicissitudes da vida, o olhar da criança é sempre doce, sem medo das
circunstâncias. A feiúra vem da comparação tendenciosa do adulto que a aprecia
do seu ponto-de-vista.
Além das aparências,
as necessidades existenciais ressurgem com força dominadora. O destino das
flores tem percursos imprevistos pelo homem. Ele se livra delas, pensando em
seu trajeto pessoal, sem saber das consequências.
O homem,
desconhecendo a realidade imortal que o envolve, ainda se debate nos grilhões
da morte, onde coloca tristeza e desolação.
Mas é preciso que ele
se inspire em Francisco de Assis (1182/1226), o mais santo dos italianos e o
mais italiano dos santos, que poeticamente nos falou do irmão-sol, da irmã-lua
e da proteção dos animais, sem perder a referência principal do homem no
contexto do universo.
Ao ensejo da abertura
do 5° Seminário Banco do Brasil e a Integração Social, proferimos discurso em
homenagem a Caio de Mello Franco, na presença do escritor Afonso Arinos de
Mello Franco Filho, citando a poesia:
“És o
gênio do Amor, na natureza!
Teu irmão Sol te aquece e te ilumina ...
Se é
noite, Soror Lua, cristalina,
Desfaz-se em ouro,
toda em ouro acesa ...” (12)
(12) CAIO DE MELLO
FRANCO (in Vida que passa... (poemas) - p. 197 - Typographia do Annuário do
Brasil - Rio de Janeiro – 1924.
Nós sabemos que as
necessidades das criaturas são imensas. Há andorinhas piedosas em louvor do
Criador nos claustros dos conventos, pardais solitários que buscam galhos secos
para construir novos ninhos, abelhas se ligando ao trabalho de classe, borboletas
voejam em saltos que sobressaem a cor, o brilho, a destreza dos movimentos.
Se a fauna é rica em
suas espécies, a flora tem flores e arbustos em tapetes mágicos que encantam
todos os olhares.
Se uma flor cai, sozinha, mostrando o tecido de veludo que
a compõe, não podemos ver a beleza morrendo. A beleza é eterna, tem uma
transparência que fica registrada no campo astral, assim como o exemplo
daqueles que vieram ao mundo para servir.
A tristeza do homem
em ver as flores perdendo o viço e a graça é em decorrência de sua visão
voltada ao curto espaço-limite onde está circunscrito.
Quando ele não
destruir a fauna e a flora e ver nos anjos solitários das ruas de cidades
companheiros em difícil teste, compreenderá que a vida está em tudo.
Testes difíceis todos
passam, até mesmo aqueles que contribuíram na evolução planetária sentiram a
aridez do deserto - Spinoza, indigente, Galileu, escarnecido, Beethoven, surdo,
Braille, tuberculoso, Pavlov, cego, Gabriela Mistral, cancerosa, e os mártires
que marcaram a História.
A revelação dos profetas e
poetas que viam a vida resplandecer, em estados mais sutis, é decantada em
linguagem comovente por aqueles que saíram vitoriosos de suas provas de
libertação íntima.
Blog Fernando Pinheiro, escritor
Blog Fernando Pinheiro, escritor
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