“Sobre nuvem de
ouro, com festões de ouro, passa aéreo
bando girando, claras como auroras dançam no ar as horas como
gentis meneios de
seios.”
Evocando Gonçalves Dias (in Obras
Poéticas I, p. 224 – “Tenho também uma lira / De festões engrinaldada!), vê–se que a imortalidade aí está no símbolo da
lira e dos festões. Os campeões
olímpicos também possuem
os louros em
coroa.
Relembrando um pouco os feitos do grande
maestro e compositor paulista,
ressaltamos que, em 1976, a
ópera O Chalaça, de Francisco
Mignone, foi estreada no Theatro Municipal
de São Paulo, tendo no papel-título o barítono Paulo Fortes. O libreto é de autoria de
Mello Nóbrega, patrono da Cadeira n° 35, da Academia de Letras dos
Funcionários do Banco do Brasil,
atualmente ocupada por Ivo Barroso, o príncipe dos poetas-tradutores
brasileiros.
A
dança das horas que inspirou ao compositor
Ponchielli a música de balé e ao poeta Guilherme de Almeida, o poema–título do livro, é, também para nós,
um ponto reflexivo sobre a vida. Para
conferir esse argumento, basta
mencionar a presença
do relógio na
vida humana.
Desde que foi inventado, foi colocado nos
lugares públicos para lembrar a
população que existe um horário
a ser obedecido:
hora de acordar,
hora das refeições,
hora de trabalho, hora de
passeio, hora de viagem, hora de dormir,
etc., obedecendo à sabedoria do rei Salomão: “na vida, há tempo
para tudo.”
A imagem usada por Goulart de
Andrade é repleta de riqueza não
apenas pelo ouro que as nuvens transportam,
em auroras rutilantes, mas por imagens de elevado valor que traz uma leveza sublime, certo
encantamento que vem das horas
passando lentamente e das mulheres que passam nas ruas vestindo roupas em que
sobressaem os meneios de seios.
As
horas, que dançam, são comparadas a mulheres em
movimento, onde surgem, além dos meneios de seios, o encanto e a sedução que a cintura revela: “os
braços nevados como eletrizados,
e as ancas
redondas como ondas”.
A letra da canção evoca ainda um
cenário, onde se desenrola, num clima de alvura, no símbolo do arminho, um
desfile de horas / mulheres em
várias situações de:
agitação: no semblante
esvoaçante;
confiança:
no rosto
sorridente;
rapidez:
aquela
que dá voltas,
viaja, passeia;
evidência: é
a daquela que
tem glória;
riqueza: aquela que se veste de ametista, joia que
se debruça sobre
corpos lindos de
mulher;
saudade: aquela
que tem pensamentos
leves, como a
brisa, que chega
a uma transcendência, o gozo de
infinito bem que
apenas soa e voa.
Há um
constante desfile de
horas / mulheres. Todas
passam, muitas fazendo
alaridos, entre risos
e guizos, para
mostrar que estão vivas como faz a cigarra morrendo e cantando.
Aquela que encontrou
a felicidade não
volta pela onda revolta. No espaço nuvens vão se
diluindo (problemas que passam)
e surge a
estrela vespertina, revelando-nos
o paraíso que criamos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário