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domingo, 19 de agosto de 2012

O BRILHO DO ORVALHO

        Entre o desejo e a satisfação existe um caminho onde verificamos os acidentes que nos fazem pensar naquilo que desejamos.


        Quando o desejo não é satisfeito, sentimos frustração como se fôssemos uma criança que chora por um brinquedo que gostaria de ganhar.


        Nas brumas do alvorecer, no horizonte que vem surgindo claro, ainda não prestamos a atenção no brilho do orvalho. Na noite que passou, lembranças de fantasias ronda-nos a mente como se a vida fosse um tapete onde estendêssemos tudo que pensamos realizar.


        Ainda sem a visão da luz que descortina os horizontes, pensamos que só existe um lugar no mundo onde cultuamos o nosso ego. O meu espaço, o meu bem-querer, o meu filho, o meu carro, a minha roupa, onde tudo parece se resumir apenas nisso.

        Onde está a ideia do desprendimento, o amor à causa coletiva, a renúncia de prazeres que desperdiçam nossas melhores energias?
        As situações da vida estabelecem, com precisão, tudo aquilo que serve ao nosso aprendizado como seres em evolução. E por desconhecermos o que nos convém, temos necessidade de nos decepcionar com as pessoas e coisas que nos fazem sentir as horas de monotonia.


        Se tivéssemos tudo que desejamos, a nossa vida seria um inferno porque ainda não sabemos escolher aquilo que nos convém, naquele sentido que nos dá a plenitude, a realização dos sonhos nascidos das fontes límpidas.


        É por isso que a vida nos dá o melhor momento, o atual, de fazermos fluir nossos pensamentos e ações numa corrente que busca imitar o canto das fontes anunciando a água que alimenta as searas.


        Na precisão do tempo e do espaço, temos exatamente o que devemos ter. A natureza, que faz fluir o equilíbrio dos seus reinos, não iria nos envolver num clima de desconforto.

        E como ainda não somos senhores do destino, aceitemos a vida como aceitamos a chuva, o sol, o frio, o calor, sabendo que o nosso caminho pode ser alterado naquilo que podemos fazer, sem nenhum instante quebrar o curso normal de outras vidas que seguem paralelas ou na mesma linha.


        O orvalho refresca o reino vegetal num momento em que a noite desdobra os véus da escuridão para encobrir os segredos que só o vigor das plantas pode revelar.

        E nos primeiros raios do alvorecer, o orvalho volta ao reino da atmosfera, numa despedida silenciosa, deixando um clima de fertilidade.


        A evolução humana, como a dos demais reinos em que a natureza se manifesta, tem ligações comuns entre tudo que existe, numa escalada que vai descortinando os estágios que evidenciam a posição exata de cada um.


        Quando o homem estiver consciente de que tudo está no processo de evolução, não sentirá desejos por aquilo que desconhece. Se houver sabedoria, o desejo e a satisfação ocorrerão num mesmo instante.


        Enquanto isto, os desencantos serão atraídos pela sua necessidade de se afirmar na vida que possui um direcionamento mais justo do que se pode imaginar.


        A sabedoria e o brilho do orvalho só acontecem quando a luz, nesta ou em outra dimensão, os conduz a reinos que sustentam a vida planetária.

 
Blog Fernando Pinheiro, escritor

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