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sexta-feira, 27 de julho de 2012

ALAMÔA

Nos idos de 1948, quando o médico Guilherme da Silveira dirigia os destinos do Banco do Brasil, o funcionário Lourenço da Fonseca Barbosa, Capiba, escreveu a canção Alamõa, retratando uma lenda do arquipélago Fernando de Noronha.
Sobre o autor, ressaltamos que, nos idos de 1943, escreveu a canção Maria Betânia, destinada para a peça Senhora de Engenho, de Mário Sette, dirigida pelo teatrólogo Hermógenes Viana, à época funcionário do Banco do Brasil.
Posteriormente, a canção foi gravada pelo cantor Nelson Gonçalves, hoje um dos clássicos da música popular brasileira. Outro sucesso de época foi a Serenata Suburbana, de Capiba, na voz de Dalva de Oliveira e regravada por inúmeros cantores.
Ao ensejo do lançamento do disco Mestre Capiba Raphael Rabello e convidados, sob o patrocínio do Banco do Brasil, banco que divulga a memória nacional, citamos matéria publicada pela imprensa: “Mestre Capiba” está bem longe de ser mais um tributo comercial.” (3)
(3) JOÃO PIMENTEL (in Capiba pelo violão genial de Rafhael –  Jornal O Globo (05 de novembro de 2002).
Capiba era mais conhecido como compositor de frevos. No entanto, na área erudita, escreveu um concerto para piano e outro para flauta, um trio para violão, violino e cello, e ainda uma suíte para piano, orquestrada pelo compositor Guerra Peixe. Nos idos de 1950, obteve o 2° lugar no concurso comemorativo ao 1° Centenário do Teatro Santa Isabel, na capital pernambucana, com a apresentação de uma abertura solene para orquestra sinfônica.
Ferreyra Santos, poeta e romancista pernambucano, é o autor da letra da música Alamôa que começa narrando uma sombra de gente dançando dentro da noite, num lugar lambido pelo mar.
A lenda contada pelos habitantes de Fernando de Noronha é a respeito do episódio dramático ocorrido com um jovem casal. Ela, loira, de longos cabelos, parecendo uma alemã (alamôa para os nativos) foi morta pelo noivo. Motivo do crime: ciúme. Ele foi condenado a cumprir pena. Numa noite de temporal, ele morreu de remorso porque foi constatada a inocência da amada.
Em noites de tempestade, ela surge dançando entre os rochedos a caminho da cela onde esteve preso o noivo.
A letra da canção revela uma sombra de mulher a dançar num lugar isolado, rodeado de mar, açoitado pelo vento da tempestade. O ser mais profundo que nela vivia, enquanto noiva de um homem ciumento, recrudesce em imagens vivas que a morte não conseguiu eliminar.
Os noivos do passado, em transes dolorosos e de sofrimento, buscam o reajuste que a harmonia estabelece. O amor tem esse encantamento que faz surgir a beleza.
Particularmente, mesmo não aceitando o crime por amor, vemos que o canto nordestino se converte em prece fervorosa em súplica pedindo a Alamôa sair dos olhos do pobre pecador e perdoá–lo.
No mundo espiritual os passageiros do mundo material são recebidos e encaminhados a esferas de comportamento em que semearam seus corações. Quem semeou a noite escura colherá a noite escura, quem semeou o dia claro colherá o dia claro.
Os liames afetivos permanecem vivos dentro da durabilidade de que são revestidos, o que enseja pensar em grau ou escala de envolvimento, intensidade e teor vibratório das emanações psíquicas ou emocionais revelando a beleza, para concluirmos que somente o amor pode transmudar, no tempo e no espaço, a situação que revela a imortalidade do próprio sentimento.
Esse fenômeno que se irradia na natureza e se faz presente no homem, numa consciência plena, que é integrante da própria natureza, independe da condição de crença ou aceitação, assim como o átomo já existia, embora não descoberto, desde os primórdios da civilização humana.
Blog  Fernando Pinheiro, escritor
Site   www.fernandopinheirobb.com.br

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