ALAMÔA
Nos idos de 1948, quando o médico Guilherme da Silveira dirigia os
destinos do Banco do Brasil, o funcionário Lourenço da Fonseca Barbosa, Capiba,
escreveu a canção Alamõa, retratando uma lenda do arquipélago Fernando de
Noronha.
Sobre o autor, ressaltamos que,
nos idos de 1943, escreveu a canção Maria Betânia, destinada para a peça
Senhora de Engenho, de Mário Sette, dirigida pelo teatrólogo Hermógenes Viana,
à época funcionário do Banco do Brasil.
Posteriormente, a canção foi
gravada pelo cantor Nelson Gonçalves, hoje um dos clássicos da música popular
brasileira. Outro sucesso de época foi a Serenata Suburbana, de Capiba, na voz
de Dalva de Oliveira e regravada por inúmeros cantores.
Ao ensejo do lançamento do disco
Mestre Capiba Raphael Rabello e convidados, sob o patrocínio do Banco do
Brasil, banco que divulga a memória nacional, citamos matéria publicada pela
imprensa: “Mestre Capiba” está bem longe de ser mais um tributo comercial.” (3)
(3)
JOÃO PIMENTEL (in Capiba pelo violão genial de Rafhael – Jornal O Globo (05 de novembro de 2002).
Capiba era mais conhecido como
compositor de frevos. No entanto, na área erudita, escreveu um concerto para
piano e outro para flauta, um trio para violão, violino e cello, e ainda uma
suíte para piano, orquestrada pelo compositor Guerra Peixe. Nos idos de 1950,
obteve o 2° lugar no concurso comemorativo ao 1° Centenário do Teatro Santa
Isabel, na capital pernambucana, com a apresentação de uma abertura solene para
orquestra sinfônica.
Ferreyra Santos, poeta e
romancista pernambucano, é o autor da letra da música Alamôa que começa
narrando uma sombra de gente dançando dentro da noite, num lugar lambido pelo
mar.
A lenda contada pelos habitantes
de Fernando de Noronha é a respeito do episódio dramático ocorrido com um jovem
casal. Ela, loira, de longos cabelos, parecendo uma alemã (alamôa para os
nativos) foi morta pelo noivo. Motivo do crime: ciúme. Ele foi condenado a
cumprir pena. Numa noite de temporal, ele morreu de remorso porque foi
constatada a inocência da amada.
Em noites de tempestade, ela
surge dançando entre os rochedos a caminho da cela onde esteve preso o noivo.
A letra da canção revela uma sombra de mulher a dançar
num lugar isolado, rodeado de mar, açoitado pelo vento da tempestade. O ser
mais profundo que nela vivia, enquanto noiva de um homem ciumento, recrudesce
em imagens vivas que a morte não conseguiu eliminar.
Os noivos do passado, em transes
dolorosos e de sofrimento, buscam o reajuste que a harmonia estabelece. O amor
tem esse encantamento que faz surgir a beleza.
Particularmente, mesmo não aceitando o crime por amor,
vemos que o canto nordestino se converte em prece fervorosa em súplica pedindo
a Alamôa sair dos olhos do pobre pecador e perdoá–lo.
No mundo espiritual os
passageiros do mundo material são recebidos e encaminhados a esferas de
comportamento em que semearam seus corações. Quem semeou a noite escura colherá
a noite escura, quem semeou o dia claro colherá o dia claro.
Os liames afetivos permanecem
vivos dentro da durabilidade de que são revestidos, o que enseja pensar em grau
ou escala de envolvimento, intensidade e teor vibratório das emanações
psíquicas ou emocionais revelando a beleza, para concluirmos que somente o amor
pode transmudar, no tempo e no espaço, a situação que revela a imortalidade do
próprio sentimento.
Esse fenômeno que se irradia na
natureza e se faz presente no homem, numa consciência plena, que é integrante
da própria natureza, independe da condição de crença ou aceitação, assim como o
átomo já existia, embora não descoberto, desde os primórdios da civilização
humana.
Blog Fernando Pinheiro, escritor
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