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terça-feira, 10 de julho de 2012

A MORTE E A DONZELA

Na canção A Morte e a Donzela, de Schubert, o significado da morte está associado à palavra dormir. Assim, longe da ideia do vazio ou de perda, todos os dias o ser humano morre parcialmente para viver experiências profundas.
A morada do homem é o paraíso. Ele passa dezesseis horas em estado de vigília e começa a sentir cansaço. Mais algumas horas torna-se insuportável ao seu corpo físico. O sono é inexorável e, então, adormece.
Nessas horas de repouso, volta ao paraíso, onde tem suas raízes milenares. Lá encontra seus verdadeiros chefes, seus amores de laços que o tempo terreno não conta mais. Recebe, então, a orientação segura do seu viver e vê o vale da sombra e da morte um ponto minúsculo a se perder no espaço.
Os perigos que ameaçavam sua tranquilidade nessas paragens não o atingem. O voo nas esferas do paraíso, que a realidade tangível classifica como um voo nos sonhos, tem a emancipação parcial do homem que deixa uma pequena percentagem de sua alma no corpo físico.
Como a parte mais importante do homem é a força que o envolve, ele precisa diariamente se alimentar das energias cósmicas que se encontram em regiões não contaminadas.
Nessas paragens de comovente beleza, vê a realidade das circunstâncias que une as pessoas; os motivos estabelecendo ocorrências em que está envolvido e as razões por que algo lhe desperta a atenção.
Diante dos fatos que lhe trazem a explicação dos enigmas, que até antes não os compreendia, vê em tudo uma ligação promovendo o equilíbrio daquilo que estava oscilante.
No longo percurso da sua caminhada, o homem tem necessidade de confirmar a manifestação do ser etéreo, que ele é, em todos os seus gestos e atitudes, pois nada acontece no universo sem os ditames de uma lei maior.
Na incompreensão daqueles que veem os transtornos saindo das mãos dos opressores, confirmamos que há sempre um vínculo unindo as pessoas, independente de circunstâncias agradáveis ou não.
O universo inteiro está mergulhado em movimento. As estrelas viajam no espaço recebendo e espalhando luzes de sóis que se multiplicam da noite para o dia e até mesmo num piscar de olhos. As galáxias e as nebulosas estendem cenários em viagens que não terminam nunca.
São tão pequeninos os embaraços humanos se compararmos com as possibilidades que estão à disposição de todos para se engrandecerem diante do cenário da vida cósmica em movimento.
Precisamos entender, de vez, que não pertencemos à Terra, do mesmo modo que o mergulhador de plataforma submarina reconhece que não mora no fundo do mar. Estamos de passagem em missão peculiar às características do ambiente onde vivemos.
Como temos ainda laços com o planeta, que se estendem pela incompreensão daqueles que se decepcionaram com os nossos gestos, retidos nas noites do tempo, precisamos aproveitar a oportunidade para demonstrar a eles o nosso amor, em silêncio ou nas palavras.
Divulguemos aos tristes que, na música a morte é vida, como a crisálida que desperta a borboleta. A Morte e a Donzela, de Schubert, Pavana para uma princesa morta, de Ravel, O Cisne de Tuonela, de Sibelius, e tantas outras expressões de beleza transcendente, são momentos que retiram a ressaca do homem a caminho da angelitude e o envolvem com a roupagem das estrelas.
Blog Fernando Pinheiro, escritor    
      Site 
www.fernandopinheirobb.com.br
 

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