ELEGIA – CREPÚSCULO DE OURO
Destinada para baixo cantante e piano, Elegia – Crepúsculo de Ouro, Opus
10, do compositor paraense Artur Iberê de Lemos (1901/1967) foi escrita em 15
de junho de 1925, nos movimentos andantino moderato, pianíssimo, com suavidade,
più mosso, molto legato, cantante e pianíssimo. A letra é de Félix Pacheco. O
início descreve um panorama bucólico no qual o sol adormece no poente.
Membro da Academia Brasileira de
Letras e, em várias décadas, jornalista do Jornal do Commercio, José Félix
Alves Pacheco legou-nos uma obra rica nas áreas da poesia, história e ensaios.
Na política exerceu mandatos de deputado federal, senador da República e
ministro de Estado das Relações Exteriores.
O canto elegíaco, que a música
revela, cria uma atmosfera contemplativa, até mesmo de meditação, e estende sentimentos
que buscam o sagrado. A hora é mística do mistério e não do misticismo
enganador. É a viagem à alma, sol divino que anima o corpo, numa contemplação
ao pôr-do-sol que se espalha no horizonte revelando imagens de beleza
transcendente.
O crepúsculo de ouro veste as
tardes sentimentais e sugere-nos paz e melancolia. A natureza toda adormece, a
tarde é vencida, os pássaros voltam aos seus ninhos, o silêncio cobre a
paisagem no horizonte, fazendo a vida diminuir as atividades e o homem percebe
que é a hora do silêncio e da meditação. O encontro com a beleza da paisagem o
faz voltar-se a si mesmo, em pensamentos reflexivos que o ajudam a sair dos
embaraços do caminho.
Assim como precisamos desfazer de
um programa para entrar em outro, tanto na informática como na prática, é
indispensável desligarmos das coisas passageiras para nos ligarmos as que têm
um sentido eterno, mergulhado no sagrado. Daí ter surgido, às seis da tarde, a
hora da Ave-Maria, em outros tempos mais reconhecida e devotada. Sem apreciação
desse movimento, surgiu, nos dias atuais o declínio de valores éticos e
sociais.
O comércio de permuta de valores
espirituais sempre esteve presente na vida humana, desde que o mundo é mundo.
No roteiro bendito das religiões sempre houve o estímulo à prece como recurso
de atrairmos as dádivas preciosas que estão à disposição de todos, independente
de qualquer condição social, basta que nos coloquemos à altura de recebê-las.
No sentido inverso, esse comércio
também se estabelece, porque as vibrações do pensamento são energias que ganham
espaço em direção do estado mental que escolhemos. Se na sustentação dos
valores éticos há um clima que estabelece a beleza, na estrada da sombra há
perigos que podem dificultar ou mesmo interromper a nossa caminhada, afastando
os ideais sublimes que a vida nos oferece.
Se na sabedoria do rei Salomão
encontramos as setas que voam pela noite, na palavra do vate piauiense há um
aviso sobre a estrada, colocado à beira do abismo:
“Núncios da noite, irmã do mal que do alto desce lenta
e lânguida, abrindo um pálio às agonias, só quem vos pode ouvir é o coração do
poeta.”
Entre uma e outra, a decisão é
sempre nossa. Precisamos dizer mais? Não. Estejamos sempre à vontade para
escolher. Vida sublimada pelos ideais nobres, que elegemos num momento de
inspiração, eis a nossa opção.
Blog Fernando Pinheiro, escritor
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