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quarta-feira, 25 de julho de 2012

CÂNTICOS SERRANOS N° 2

     Os Cânticos Serranos n° 2, de Guerra Peixe, foram escritos em 24 de março de 1976, e iniciam-se no movimento andante   forte  e  terminam  poco  affretando   e  ritardando.

        A  letra  da  música  traz  os  versos  do poeta  Raul de   Leoni (1895/1926) que revela um encontro casual mergulhado  na  inocência,  transformando  a  intimidade  em  saudações  de  simples  cortesia.  Ao  finalizar  a  poesia,  ele  descreve:
     
       
     Nunca mais nos falamos...  vai distante...
      Mas, quando a vejo, há sempre um vago instante
      Em que seu mudo olhar no meu repousa.”
      “E eu sinto, sem no entanto compreendê-la
      Que ela tenta dizer-me qualquer cousa,
      Mas que é tarde demais para dizê-la...”

Na sabedoria do silêncio, Jesus calou-se diante de    
Pilatos e Raul de Leoni, o poeta da emoção filosófica, faz calar fundo quem busca a verdade: 


       “Não sofras mais à espera das auroras
        Da suprema verdade a aparecer:
        A verdade das cousas é o prazer
        Que elas nos possam dar à flor das horas...

        Essa outra que desejas, se ela existe,
        Deve ser mais fria e quase triste,
        Sem a graça encantada da incerteza...

        Vê que a Vida, afinal – sombras, vaidades –
        É bela, é louca e bela, e que a beleza
        É a mais generosa das verdades...”    (5)
(5)     RAUL DE LEONI (in  Luz  Mediterrânea, p. 106)
 
       Ambos, o compositor e o autor da letra da música Cânticos Serranos, são naturais da cidade de Petrópolis, conhecida como a cidade imperial, que está erguida dentro da Serra dos Órgãos.
        A Pousada Chalé da Montanha, de propriedade de Jean Vieira, é confortadora e nos leva a certo encantamento que a paisagem serrana nos desperta.
        Encanto de inefável beleza é poder ouvir, à noite, sempre quando ocorre, os ventos correr em sons graves e agudos por todas as montanhas da Serra a nos fazer lembrar os órgãos (instrumentos musicais). À primeira impressão, quando ouvimos, pareciam ser os ventos que anunciam as chuvas. Mas, na verdade, são os cantos da Serra que a natureza nos oferece.
        Mesmo dentro do teor filosófico, há, a nosso ver, uma pequenina opacidade na poesia de Raul de Leoni marcada apenas por uma palavra: incerteza que, se fosse substituída  por inocência, perderia a rima com a palavra beleza, mas ganharia um sentido mais transparente, característica marcante do  grande  poeta  petropolitano.
        Os Cânticos Serranos têm uma letra que retrata uma situação muito comum no relacionamento de pessoas, principalmente àquelas que têm um convívio no trabalho ou  nos  ambientes  sociais  onde  buscam  a  recreação  e  o   lazer.
        Cumprimentar  as  pessoas  é  um  gesto  de  cortesia  e  envolve sentimentos que podem despertar algo mais que      uma  palavra  de  saudação  ou  de  elogio.
       No passado não muito distante, o poeta tinha um clima  favorável  para  declamar  palavras  de  amor  a  gentis  donzelas ou às senhoras casadas, estimulando-as a prática   das virtudes cristãs ou à apreciação da beleza inefável da  natureza. A mulher é sempre a musa que inspira os mais    belos  sonhos  de  amor.
      A comunicação no passado era mais retraída e estava  subordinada a condicionamentos sociais que impediam uma aproximação mais à vontade onde os desejos pudessem ser manifestados. Hoje, com maior rapidez, o telefone e a internet propiciam oportunidades de aproximação muito maior do que naqueles tempos de outrora, onde o amor era  uma  manifestação  acanhada   e  inocente.
    E assim o tempo corre... ou, melhor dizendo, aproveitando  as palavras do poeta “E a vida foi andando para frente...” Sem a comunicação desejada, há algo novo para ser  completado. Um olhar que ficou pairando no ar e guardado     no coração, uma palavra que veio numa linguagem que   precisa, como capítulo de novela, de uma continuação e de  um  final  feliz.   


Blog Fernando Pinheiro, escritor

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