CANÇÃO DOS BARQUEIROS DO VOLGA
Os ventos nas estepes
frias sacodem os pinheiros em florestas mergulhadas na solidão. A neve se
espalha por extensões de terra durante a maior parte do ano.
Os lobos seguem em caminhadas à
procura de alimentos; aves pousam em reservas ecológicas, onde outros animais
lhes fazem a perseguição. O voo é a fuga mais segura. Folhas de árvores caem e,
em pouco tempo, são cobertas pela neve. A paisagem russa se reflete na música.
A Canção dos Barqueiros do Volga,
possivelmente a mais popular do folclore russo, nos revela que os troikas
deslizam, sofrem os moujiks e, ao som de mil balalaikas, gemem canções do
Volga... de sonhadores... pois, os barqueiros também têm amores.
A música, sob compassos fortes e
vigorosos, marca um arrebatamento selvagem e, ao mesmo tempo, desdobra um tom
de melancolia, sem nenhum traço de tristeza mórbida, refletindo-se a solidão
das terras impenetráveis que se misturam com as paisagens onde o rio corre por
entre bosques e cachoeiras.
Os barqueiros do Volga cantam o
vigor da vida que se espalha pelo verde das florestas, pelo vermelho do sangue
que mantém a vida animal, pelo azul que revela o infinito, pela alma
transparente aos sonhos guardados em outras dimensões.
A melancolia da música russa não
pode ser apreciada isoladamente, como não aceitaríamos a vida sem as alegrias
que se misturam à tristeza. Os sonhos, que estão à frente dos passos,
representam apenas algo a fazer. O tempo é sempre um referencial marcante em
nosso caminho.
Os barqueiros eslavos cantam a
vida nas estepes frias e, lembrando-se dos seus lares, sentem a nostalgia que
se transfere para os pinheiros. Não estão nostálgicos e afirmam cantando: “os
barqueiros também têm amores... têm amores”.
A nostalgia, que está tão perto
da tristeza e da saudade, é apenas uma falta de percepção dos amores que
circulam em nossos ambientes de trabalhos, lazer e moradia. A solidão é
bloqueio de oportunidades em que existem muitas pessoas querendo participar.
Como é importante observarmos
tudo que chega a nossas mãos, numa lição preciosa que eterniza o momento. Não
apenas a satisfação na pele, mas no envolvimento que possui raízes profundas.
São admiráveis as pessoas que
passam um sorriso no olhar, como os pinheiros que passam o canto dos ventos,
como fazem os cantores barqueiros afirmando que também têm amores... têm
amores...
As árvores recebem a onda da
vida, a onda galáctica que derrama os raios adamantinos, destinada a tudo e a
todos. No entanto, o homem, vivenciando a ilusão, se reveste de franjas de
resistência, não deixando essa onda entrar em sua vida.
O medo do desconhecido, imposto
pelo fogo prometeico que falsificou esta humanidade, não permite ao homem a
descoberta de sua realidade, a verdadeira essência. A educação, as crenças
naquilo que pensam que ele é, desviam-lhe o caminho. E o que é pior: o
desconhecido é ilusão e o verdadeiro é o ele que vive, numa ordem invertida,
pois o fogo prometeico tem esse papel.
A separação do joio e do trigo é
uma realidade neste final dos tempos, desta densa consciência planetária que
está indo embora.
A Canção dos barqueiros do Volga ganhou
o mundo inteiro porque traz a afirmação de um sentimento que afasta qualquer
traço de nostalgia. O amor no coração preenche todas as lacunas.
A repercussão é comovedora porque
a canção surgiu, entre as paisagens russas, unindo os povos no mesmo sentimento
em que os casais buscam uma expressão particular. A nível transcendente aos
lares e pátrias, a força ainda é bem maior porque não há poluição nas fontes
límpidas e nos sentimos à vontade para mergulhar nessas fontes, fontes eternas.
Vídeo no Youtube: Russian Red
Army Choir - Song of the Volga Boatmen – 1965
As minhas amigas russas Irina
Orlova, Galina Lukyanova, Yulia Shumkova, e a africana Mirabelle Omo, residindo
atualmente em Moscou, que o amor seja a nossa liderança.
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