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terça-feira, 17 de julho de 2012

MEU VELHO RIO

A música Meu Velho Rio, de Afonso Martinez Grau, traz recordações do Rio antigo, muito antigo mesmo. São reminiscências do passado, antes de 24 de maio 1898, data do nascimento do compositor.
A letra desta melodiosa modinha, acompanhando a atmosfera de um passado distante, é de autoria do poeta Pádua de Almeida, irmão do conhecido escritor Moacir de Almeida.
Afonso Martinez Grau pertenceu à Associação Brasileira de Imprensa, à SBAT - Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Escreveu músicas de câmara, peças para canto e piano, dentre elas destacamos Suite Antiga, Prelúdios, Jogos Infinitos, para grande orquestra e executadas no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, bem como muitas músicas populares, sob o pseudônimo de A. Paraguassú.
O Álbum n° 1 - Canções Líricas Brasileiras – canto e piano, publicado pela Casa Arthur Napoleão – Rio de Janeiro – 1959, traz uma foto de Afonso Martinez Grau ao lado de Beniamino Gigli, célebre cantor lírico italiano, tirada nos idos de 1947, no intervalo do recital na Escola Nacional de Música.
Segundo informação pessoal prestada pelo maestro Jonas Travassos que o acompanhou em sua tournée, o célebre tenor esteve também na Igreja de Nossa Senhora da Glória, no Outeiro da Glória, onde foi agraciado com um título honorário da Irmandade e, usando sobre a roupa as insígnias recebidas, cantou as músicas Panis Angelicus, de César Frank e Ave Maria, de Bach/Gounod.
O Rio de outros tempos está na lembrança dos leques das “sinhás”, do oratório das esquinas, e os tristes “bicos de gás”, época de serenatas, becos sem luz, luz fraca de lampiões. Os leques das “sinhás” lembravam o convívio social na apresentação de artistas franceses e italianos no Teatro Lírico Fluminense e nos saraus de canto e piano nas casas de famílias ricas.
A religiosidade se manifestava no oratório das esquinas (eram nichos onde eram colocados imagem de santos, a fim de estimular os pedestres a um momento de prece e a concentração piedosa), e em algumas mansões e chácaras existia uma capela.
Nos idos de 1854 - época em que o Banco do Brasil, em sua terceira fase (a 1ª em 1808/1829, a 2ª em 1851-1853), sob a presidência de Lisboa Serra, abre ao público suas atividades – Visconde de Mauá, o mais importante empresário do Império, teve a iniciativa de começar a fase de iluminação a gás no centro da cidade do Rio de Janeiro, substituindo a de óleo de peixe, muito fraca, quase apagada.
Naquela época, em noites de lua cheia, as pessoas ficavam em frente de suas casas em clima de festa e de amizade, onde surgiam sempre serenatas e saraus poéticos, noite adentro que se perdia pela madrugada.
Era o tempo em que se iniciava o carnaval dos bailes mascarados (bailes de máscara), divulgados em anúncios de jornal, e frequentados por artistas franceses e italianos e a elite da sociedade carioca acostumada a ler livros de autores franceses.
Outros anúncios de jornais retratavam o perfil da vida do Rio antigo, tempo do Brasil–império: leilão de escravos, aluguel de escravos, colégio para senhoritas, daguerreotypo (fotografia), papeis com pintados, pianos ingleses, superior rapé, ama de leite, coletes para senhoras (sortimento de Paris), depósito de bichos, botica homeopática, viagens em paquetes (navios a vapor).
Meu Velho Rio, de Afonso Martinez Grau, traz a atmosfera de um passado longínquo que foi suplantado para que a sociedade caminhasse em direção dos mesmos sonhos daqueles que não tiveram as facilidades do mundo moderno.

Blog  Fernando Pinheiro, escritor
Site   www.fernandopinheirobb.com.br

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