MEU VELHO RIO
A música Meu Velho Rio, de Afonso Martinez Grau, traz recordações do Rio
antigo, muito antigo mesmo. São reminiscências do passado, antes de 24 de maio
1898, data do nascimento do compositor.
A letra desta melodiosa modinha,
acompanhando a atmosfera de um passado distante, é de autoria do poeta Pádua de
Almeida, irmão do conhecido escritor Moacir de Almeida.
Afonso Martinez Grau pertenceu à Associação Brasileira
de Imprensa, à SBAT - Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Escreveu
músicas de câmara, peças para canto e piano, dentre elas destacamos Suite
Antiga, Prelúdios, Jogos Infinitos, para grande orquestra e executadas no
Theatro Municipal do Rio de Janeiro, bem como muitas músicas populares, sob o
pseudônimo de A. Paraguassú.
O Álbum n° 1 - Canções Líricas
Brasileiras – canto e piano, publicado pela Casa Arthur Napoleão – Rio de
Janeiro – 1959, traz uma foto de Afonso Martinez Grau ao lado de Beniamino
Gigli, célebre cantor lírico italiano, tirada nos idos de 1947, no intervalo do
recital na Escola Nacional de Música.
Segundo informação pessoal
prestada pelo maestro Jonas Travassos que o acompanhou em sua tournée, o
célebre tenor esteve também na Igreja de Nossa Senhora da Glória, no Outeiro da
Glória, onde foi agraciado com um título honorário da Irmandade e, usando sobre
a roupa as insígnias recebidas, cantou as músicas Panis Angelicus, de César
Frank e Ave Maria, de Bach/Gounod.
O Rio de outros tempos está na
lembrança dos leques das “sinhás”, do oratório das esquinas, e os tristes
“bicos de gás”, época de serenatas, becos sem luz, luz fraca de lampiões. Os
leques das “sinhás” lembravam o convívio social na apresentação de artistas
franceses e italianos no Teatro Lírico Fluminense e nos saraus de canto e piano
nas casas de famílias ricas.
A religiosidade se manifestava no
oratório das esquinas (eram nichos onde eram colocados imagem de santos, a fim
de estimular os pedestres a um momento de prece e a concentração piedosa), e em
algumas mansões e chácaras existia uma capela.
Nos idos de 1854 - época em que o
Banco do Brasil, em sua terceira fase (a 1ª em 1808/1829, a 2ª em 1851-1853),
sob a presidência de Lisboa Serra, abre ao público suas atividades – Visconde
de Mauá, o mais importante empresário do Império, teve a iniciativa de começar
a fase de iluminação a gás no centro da cidade do Rio de Janeiro, substituindo
a de óleo de peixe, muito fraca, quase apagada.
Naquela época, em noites de lua
cheia, as pessoas ficavam em frente de suas casas em clima de festa e de
amizade, onde surgiam sempre serenatas e saraus poéticos, noite adentro que se
perdia pela madrugada.
Era o tempo em que se iniciava o
carnaval dos bailes mascarados (bailes de máscara), divulgados em anúncios de
jornal, e frequentados por artistas franceses e italianos e a elite da
sociedade carioca acostumada a ler livros de autores franceses.
Outros anúncios de jornais
retratavam o perfil da vida do Rio antigo, tempo do Brasil–império: leilão de
escravos, aluguel de escravos, colégio para senhoritas, daguerreotypo
(fotografia), papeis com pintados, pianos ingleses, superior rapé, ama de
leite, coletes para senhoras (sortimento de Paris), depósito de bichos, botica
homeopática, viagens em paquetes (navios a vapor).
Meu Velho Rio, de Afonso Martinez
Grau, traz a atmosfera de um passado longínquo que foi suplantado para que a
sociedade caminhasse em direção dos mesmos sonhos daqueles que não tiveram as
facilidades do mundo moderno.
Blog Fernando Pinheiro, escritor
Nenhum comentário:
Postar um comentário