PORTO DE TÚNIS
Em apenas três minutos
temos um panorama cultural da Tunísia, revelado no impressionismo de Jacques
Ibert, compositor francês, que nos apresenta, dentro do ciclo Escalas, Porto de
Túnis, fazendo lembrar os ventos nas tamareiras, os mercadores do cais, as
mulheres vestidas de véus que encobrem o rosto para deixarem nos homens o
mistério e ainda nos lembram os versos de Chabbi, poeta tunisiano:
“Lorsqu’un jour un peuple veut la vie force est, pour
le destin, de répondre” (“Quando um povo quer viver, é forçoso que o destino o
atenda”).
O compositor francês deixou
importantes contribuições em todos os gêneros da composição clássica,
excetuando-se oratórios. Livre de influências compulsórias, plasmou formas de
beleza singular, numa flexibilidade que dá ao impressionismo dimensões maiores.
A música, que descortina a
atmosfera desse porto do Mediterrâneo, consegue abafar as ressonâncias das
ruínas de Cartago, localizadas a poucos quilômetros da capital tunisiana, onde
há recordações de anfiteatros, casas de banho (termas), escravos e soldados
romanos.
A plasticidade do impressionismo
na pintura ou na música revela efeitos de luz ou de sons que se espalham na
tela ou na harmonia musical. O estilo transforma a ideia, escondida nos sonhos,
num corpo tangível.
Numa visão real desta escola de
arte, foi vista por milhares de pessoas, numa noite de verão carioca, a lua
quase cheia derramando claridade suave em rajadas de chuva. O luar sobre os
pingos d’água era a placidez acima dos ventos e das folhas de árvores que se
agitavam.
Assim como os galhos de árvores
dançavam ao sabor dos ventos, a lua parecia transmitir sonoridade suave como o
adágio dos concertos, o prelúdio das sinfonias, as serenatas ou os poemas
sinfônicos dos grandes compositores.
A música das esferas
resplandecentes derramava-se sobre o planeta conturbado pela agitação ruidosa
de todos que não sabem por onde caminhar, perdidos na noite, que transpõem para
dentro deles mesmos a escuridão.
Bastaria apenas um olhar, numa
visão interna ou externa como naquela noite enluarada e suada de pingos d’água,
para se ver um azul limpo e a claridade que nos leva ao impressionismo que os
pintores e os compositores clássicos sentiram.
Quantos convites a natureza nos
oferece para recompor o nosso estado de espírito ou estado emocional como
preferem todos aqueles que estão mergulhados na emoção, sem aceitar ainda a
realidade de um estágio evolutivo plenamente consciente e eterno!
A luz, que dá cor, brilho e
imagens nas artes plásticas e na própria música, inspira-nos em pensamentos
capazes de desvanecer, um pouco, a atmosfera sombria onde está mergulhado o
planeta.
É o fenômeno da crisálida que
está passando a Terra, a atmosfera sombria é a visão da lagarta, e o novo
renascer de luz é a visão da borboleta que está nascendo. É o planeta
sacralizado.
O ciclo Escalas que é, ao mesmo
tempo, o tempo em escalas musicais e escalas de viagens, transmite a atmosfera
de três portos do Mediterrâneo, sendo que o de Túnis tem a ressonância do
comércio ambulante que exporta a beleza do país em lembranças que contêm um
olhar contemplativo ou um adeus nostálgico.
Porto de Túnis desperta-nos a
sensibilidade, sempre nos oferecendo abrigo depois das travessias dos oceanos
desta vida. Quem sabe se não foi esta lua sobre a chuva que inspirou Jacques
Ibert a compor a música que traz as imagens fluídicas do impressionismo?
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