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segunda-feira, 9 de julho de 2012

PORTO DE TÚNIS

Em apenas três minutos temos um panorama cultural da Tunísia, revelado no impressionismo de Jacques Ibert, compositor francês, que nos apresenta, dentro do ciclo Escalas, Porto de Túnis, fazendo lembrar os ventos nas tamareiras, os mercadores do cais, as mulheres vestidas de véus que encobrem o rosto para deixarem nos homens o mistério e ainda nos lembram os versos de Chabbi, poeta tunisiano:
“Lorsqu’un jour un peuple veut la vie force est, pour le destin, de répondre” (“Quando um povo quer viver, é forçoso que o destino o atenda”).
O compositor francês deixou importantes contribuições em todos os gêneros da composição clássica, excetuando-se oratórios. Livre de influências compulsórias, plasmou formas de beleza singular, numa flexibilidade que dá ao impressionismo dimensões maiores.
A música, que descortina a atmosfera desse porto do Mediterrâneo, consegue abafar as ressonâncias das ruínas de Cartago, localizadas a poucos quilômetros da capital tunisiana, onde há recordações de anfiteatros, casas de banho (termas), escravos e soldados romanos.
A plasticidade do impressionismo na pintura ou na música revela efeitos de luz ou de sons que se espalham na tela ou na harmonia musical. O estilo transforma a ideia, escondida nos sonhos, num corpo tangível.
Numa visão real desta escola de arte, foi vista por milhares de pessoas, numa noite de verão carioca, a lua quase cheia derramando claridade suave em rajadas de chuva. O luar sobre os pingos d’água era a placidez acima dos ventos e das folhas de árvores que se agitavam.
Assim como os galhos de árvores dançavam ao sabor dos ventos, a lua parecia transmitir sonoridade suave como o adágio dos concertos, o prelúdio das sinfonias, as serenatas ou os poemas sinfônicos dos grandes compositores.
A música das esferas resplandecentes derramava-se sobre o planeta conturbado pela agitação ruidosa de todos que não sabem por onde caminhar, perdidos na noite, que transpõem para dentro deles mesmos a escuridão.
Bastaria apenas um olhar, numa visão interna ou externa como naquela noite enluarada e suada de pingos d’água, para se ver um azul limpo e a claridade que nos leva ao impressionismo que os pintores e os compositores clássicos sentiram.
Quantos convites a natureza nos oferece para recompor o nosso estado de espírito ou estado emocional como preferem todos aqueles que estão mergulhados na emoção, sem aceitar ainda a realidade de um estágio evolutivo plenamente consciente e eterno!
A luz, que dá cor, brilho e imagens nas artes plásticas e na própria música, inspira-nos em pensamentos capazes de desvanecer, um pouco, a atmosfera sombria onde está mergulhado o planeta.
É o fenômeno da crisálida que está passando a Terra, a atmosfera sombria é a visão da lagarta, e o novo renascer de luz é a visão da borboleta que está nascendo. É o planeta sacralizado.
O ciclo Escalas que é, ao mesmo tempo, o tempo em escalas musicais e escalas de viagens, transmite a atmosfera de três portos do Mediterrâneo, sendo que o de Túnis tem a ressonância do comércio ambulante que exporta a beleza do país em lembranças que contêm um olhar contemplativo ou um adeus nostálgico.
Porto de Túnis desperta-nos a sensibilidade, sempre nos oferecendo abrigo depois das travessias dos oceanos desta vida. Quem sabe se não foi esta lua sobre a chuva que inspirou Jacques Ibert a compor a música que traz as imagens fluídicas do impressionismo?
Blog Fernando Pinheiro, escritor    
      Site 
www.fernandopinheirobb.com.br
 

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