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quinta-feira, 19 de julho de 2012

CANDURA

Escrita nos movimentos musicais muito devagar e com verdadeira unção, legato e simplice, crescendo, diminuindo, com elevação, declamando com suavidade e com elevação, morrendo em pianíssimo, a música Candura, de Alberto Nepomuceno, tem um poema de Radindranath Tagore, adaptado para o português pelo tradutor Plácido Barbosa (1871/1938).
A consagrada poetisa Cecília Meireles, numa conferência sobre a vida e a obra de Tagore, realizada na ABI - Associação Brasileira de Imprensa, declarou: “A poesia tagoreana conduz a uma visão de santidade, de serenidade, na contemplação geral.”
A letra da música inicia revelando gestos delicados que envolvem ternura e carinho entre os namorados: “as tuas mãos nas minhas mãos, os meus olhos nos teus olhos, assim começou o nosso amor.”
Hoje em dia, quase não se vê os casais andar de mãos dadas, nem olhar nos olhos, talvez para não demonstrar em público o compromisso entre eles. A tendência atual dos namorados é ficar ou namorar, não há alternativa.
O carinho alimenta o namoro; as mãos, os olhos emitem vibrações sutis que afaga, anima, dulcifica e extasia o nosso coração, uma sensação de voo leva-nos ao estado emocional de leveza e sentimos vontade de voar mais longe, como pássaro abrindo o espaço.
Voar juntos, em sonhos acalentados, o êxtase é ainda muito maior como a sensação de orgasmo que não pode ser sentida isoladamente. Compartilhar a nossa energia dulcificada nas emanações sutis que o amor nos inspira é viver duplamente, corpo e alma.
O cenário ajuda-nos a viver esses momentos inefáveis. No clima romântico, que criamos, pode haver lua cheia ou outras fases da lua e o ambiente adequado ao encontro amoroso, de uma cabana a uma moradia onde o requinte e o luxo se ostentam.
A letra da canção revela a claridade perfumada nos sentimentos dos amores. A atmosfera de amor, que os enamorados criam, tem luar, flores se abrindo, perfume no ar, silêncio que revela tudo correndo como os rios em direção ao mar e nossos pensamentos criando situações estáveis que constroem o lar, o refúgio que buscamos imitar do ninho de pássaros.
Quando os pensamentos inspirarem a beleza da rosa, podemos dizer que são pensamentos perfumados. O vidro de perfume acaba com o uso, mas o perfume que colocamos nos sentimentos de amor nunca termina, pois a fonte é inesgotável, isto porque colhemos do amor universal que se espalha em todas as coisas que existem.
A letra da canção também nos diz que a pureza do amor prende-nos os olhos e enaltece o elogio como forma de estímulo maior. Elogiar a beleza é criar uma atmosfera azulada onde o nosso amor flui com ternura e intensa emoção.
A música Candura finaliza num contexto social que sobressai a luta pela sobrevivência, onde o relacionamento de casais consegue ultrapassar obstáculos que influenciam o estado d'alma de quem ama e busca o amor correspondido: “E nos buscamos e nos fugimos, doces lutas simuladas, risos... timidez... Como é puro este nosso amor.”

Blog  Fernando Pinheiro, escritor
Site   www.fernandopinheirobb.com.br

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