LUA BRANCA
Nos idos de 1912, no final da belle époque do cinema nacional e no início
da entrada de filmes estrangeiros, sob o comando do empresário Francisco
Serrador, e ainda da construção de salas de projeção e cinemas no País, a
compositora, instrumentista e maestrina Chiquinha Gonzaga (1847/1935), escreveu
a música Lua Branca.
A primeira estrofe é cantada nos
versos:
“Oh! lua branca de fulgores e de
encanto,
Se é verdade que ao amor tu dás
abrigo,
Vem tirar dos olhos meus o
pranto.
Ai, vem matar esta paixão que
anda comigo.”
A canção Lua Branca é uma súplica
enternecida de quem ama e busca uma proteção ao amor apaixonado que, no íntimo,
sente vontade de matar aquela paixão que sente, dentro de si, andando com ele.
Esse sentimento provoca prantos e incomoda demais.
A luz da lua é um véu imenso que
se espalha em chuvas de prata pelo céu aberto, estendendo um enlevo inebriante
que desperta uma satisfação de beleza inefável e está intimamente ligada a um
doce estado de espírito que ameniza e dulcifica.
A poetisa a viu e a transmitiu
aos ouvintes a lua como a salvadora de angústias de amar apaixonadamente. Sem
dúvida, um recurso valioso para sentir, no íntimo, a suavidade da luz que dela
se derrama, como também existem outros meios que possibilitam a recomposição de
ânimo firme no caminho da vida.
Assistimos, nos dias de hoje, a
uma minoria de pessoas, que detém o poder da mídia, promovendo uma cultura
centrada no escândalo político e na administração pública, nas notícias de
crime em detrimento da informação da memória nacional ricamente encontrada em
todos os setores da sociedade, principalmente na música, nas artes plásticas,
na literatura, no cinema e na televisão.
Assim, divulga-se gratuitamente o
desencanto em espaços onde os empresários gastam fortunas para promover seus
produtos. Diante do desprestígio da virgindade e da banalização do sexo, a
tendência dos casais é buscar apenas a satisfação do prazer sem que haja
manifestação de amor.
Livrar-se do amor para não sofrer
é o mesmo que livrar-se da vida para não viver. O que se aprende na saudade, na
separação, vem enriquecer o nosso mundo íntimo para sentirmos melhor a vida que
se estende em outros caminhos.
Quando um dia, na longa estrada
do destino, tivermos a missão de confortar corações tristes, apaixonados,
desiludidos e até mesmo abandonados pelos entes amados que se foram por outros
caminhos, saberemos, neste nosso aprendizado, como ser útil, a fim de que
possamos promover uma sociedade que tenha mais consciência da beleza que a lua
inspira.
E na verdade ao amor que damos
abrigo, vamos tirando dos olhos dos entes queridos o pranto, a paixão que mata,
a amargura que desanima, e, seguindo o destino da lua, vamos iluminando os dias
felizes dos amores que nos esperam.
Blog Fernando Pinheiro, escritor
Site www.fernandopinheirobb.com.br
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