Páginas

segunda-feira, 30 de julho de 2012

LUA BRANCA

Nos idos de 1912, no final da belle époque do cinema nacional e no início da entrada de filmes estrangeiros, sob o comando do empresário Francisco Serrador, e ainda da construção de salas de projeção e cinemas no País, a compositora, instrumentista e maestrina Chiquinha Gonzaga (1847/1935), escreveu a música Lua Branca.
A primeira estrofe é cantada nos versos:
“Oh! lua branca de fulgores e de encanto,
Se é verdade que ao amor tu dás abrigo,
Vem tirar dos olhos meus o pranto.
Ai, vem matar esta paixão que anda comigo.”
A canção Lua Branca é uma súplica enternecida de quem ama e busca uma proteção ao amor apaixonado que, no íntimo, sente vontade de matar aquela paixão que sente, dentro de si, andando com ele. Esse sentimento provoca prantos e incomoda demais.
A luz da lua é um véu imenso que se espalha em chuvas de prata pelo céu aberto, estendendo um enlevo inebriante que desperta uma satisfação de beleza inefável e está intimamente ligada a um doce estado de espírito que ameniza e dulcifica.
A poetisa a viu e a transmitiu aos ouvintes a lua como a salvadora de angústias de amar apaixonadamente. Sem dúvida, um recurso valioso para sentir, no íntimo, a suavidade da luz que dela se derrama, como também existem outros meios que possibilitam a recomposição de ânimo firme no caminho da vida.
Assistimos, nos dias de hoje, a uma minoria de pessoas, que detém o poder da mídia, promovendo uma cultura centrada no escândalo político e na administração pública, nas notícias de crime em detrimento da informação da memória nacional ricamente encontrada em todos os setores da sociedade, principalmente na música, nas artes plásticas, na literatura, no cinema e na televisão.
Assim, divulga-se gratuitamente o desencanto em espaços onde os empresários gastam fortunas para promover seus produtos. Diante do desprestígio da virgindade e da banalização do sexo, a tendência dos casais é buscar apenas a satisfação do prazer sem que haja manifestação de amor.
Livrar-se do amor para não sofrer é o mesmo que livrar-se da vida para não viver. O que se aprende na saudade, na separação, vem enriquecer o nosso mundo íntimo para sentirmos melhor a vida que se estende em outros caminhos.
Quando um dia, na longa estrada do destino, tivermos a missão de confortar corações tristes, apaixonados, desiludidos e até mesmo abandonados pelos entes amados que se foram por outros caminhos, saberemos, neste nosso aprendizado, como ser útil, a fim de que possamos promover uma sociedade que tenha mais consciência da beleza que a lua inspira.
E na verdade ao amor que damos abrigo, vamos tirando dos olhos dos entes queridos o pranto, a paixão que mata, a amargura que desanima, e, seguindo o destino da lua, vamos iluminando os dias felizes dos amores que nos esperam.
 
Blog  Fernando Pinheiro, escritor
Site   www.fernandopinheirobb.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário