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sábado, 7 de julho de 2012

SHEHERAZADE

O intermezzo no terceiro movimento, escrito para violino solo, é o momento musical em que Sheherazade, que empresta o nome à suíte sinfônica, opus 35, de Rimsky-Korsakov, surge diante do sultão para lhe revelar os contos das noites árabes.
Nas lendas do Oriente, ouvimos falar de um rei que, se sentindo humilhado pela traição de sua esposa, requisitava diariamente em seus aposentos uma nova virgem e, após os jogos da lua e dos ventos, mandava matá-la.
Preocupados com a escassez de candidatas e a fim de evitar novos derramamentos de sangue, seus ministros indicaram a bela Sheherazade que lhe contava estórias que se prolongavam pelas mil e uma noites.

Como é importante a mulher na vivência de um casamento que se estende no futuro interminável. A lua-de-mel constante. Os planos e ideais do casal sempre colocados à luz do dia, à luz lilás ou rosa da alcova nupcial.
Assim como gostamos de ouvir prelúdios e sinfonias, suítes e noturnos, sonatas e adágios de concerto, árias de ópera e réquiens de missa, numa reciclagem interminável, a sonoridade da voz da mulher amada nos enlaça em febricitante alegria. Nesse enlevo, quanto mais a ouvimos, mais a desejamos.
Esse contentamento é doado aos filhos, familiares e amigos que vibram aplaudindo ostensivamente ou em silêncio. Esta atmosfera amena se espalha até mesmo pelos lugares por onde transitamos. Quando o casal está feliz, os filhos recebem a influência desta felicidade e passam aos seus amigos, desfazendo a seriedade dos tristes e dos zangados.
Esse clima suave e alentador propicia o encontro do casal e dos filhos na sala-de-estar e nos outros recintos onde a vida a dois é intensamente vivida, compartilhada e distribuída a toda família. Tudo está interligado: as estrelas nas constelações, os planetas nos sistemas solares, os rios nos oceanos, a família na sociedade, as sociedades na Pátria e as pátrias na humanidade.
Na Grécia olímpica esse encadeamento de beleza imperecível era conhecido pelo nome de Cosmos que quer dizer ordem, numa lição insuperável que devemos dar à nossa própria vida.
Antes que possamos sentir a harmonia das esferas, é necessário que a nossa vida seja ordenada no ritmo que flui normalmente, acompanhando o pulsar da natureza.
Diferente, nesse caminhar, seria o mesmo que acontece com a célula do câncer que resolveu trabalhar sozinha, mesmo dentro do organismo, mas longe das funções que a vitalizam, sim a vitalizam, pois elas se reproduzem e aceleram o processo de morte do indivíduo.
Parece inacreditável: o homem cercado pela abundância e sentir-se carente, dentro da lagoa grande e sentir sede, dentro de forças revitalizantes da natureza e sentir-se fraco.
A primeira mensageira dessas forças - a mulher - lhe envolve em carinhos que lhe dão um sentido mais amplo em seu viver. Quando veio ao mundo, foi o olhar materno que o acolheu e o acompanhará eternamente e, na juventude, recebe outros olhares femininos que lhe despertam os segredos do coração.
A nossa herança límbica dos mamíferos, a mãe alimentando e cuidando dos filhos, foi enfatizada no Senado Federal pelo escritor Leonardo Boff, ao ensejo da realização, em 7 de maio de 2012, do Colóquio Internacional sobre a Carta da Terra que apresentou importantes subsídios para a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável - Rio + 20.
        Sheherazade é aquela mulher que todos os homens gostariam de ter e sempre a encontram em suas esposas quando estão dispostos a ouvir suas narrativas que se prolongam em mil e uma noites.    
Blog Fernando Pinheiro, escritor    
      Site 
www.fernandopinheirobb.com.br

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