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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

POR QUÊ?


Escrita para canto e piano, em 24 de setembro de 1988, na cidade de São Paulo, a música Por Quê?, de Osvaldo Lacerda, inicia-se em movimento crescendo poco a poco, diminuendo poco a poco, menos movido, ainda um pouco menos triste, e finaliza  em pianissimo marcato.
O renomado compositor Osvaldo Lacerda (1927/2011) presidiu as seguintes entidades culturais: Sociedade Paulista de Arte, Sociedade Pró-Música Brasileira, Centro de Música Brasileira,  de  São  Paulo – SP.
Os versos do poeta Guilherme de Almeida (1890/1969), imortal da Academia Brasileira de Letras, contidos na música, fazem  perguntas à mulher amada.
É completamente impossível responder aos versos do poeta, principalmente porque as perguntas são endereçadas à    mulher amada, nem ele próprio e nem o compositor conseguiram. Aliás, é mister dos dois artistas manter a  pergunta  no  ar.
No entanto, depois do fraseado musical que acabamos de comentar, cabe-nos a tarefa de analisar o texto sob o aspecto filosófico, ricamente estruturado em metáforas que invadem o  campo sentimental e nos revela a interioridade da alma  humana.
Há o encontro de um casal, à hora morta da noite. Ela o   espera  e  abre  a  porta,  corresponde  ao  sorriso  que acabara de receber e a rosa é segura pelas suas mãos. Depois, acende  a  lâmpada e a lareira, estende a esteira; fecha a porta, tira os  brincos, solta os cabelos e tira o cinto de couro.
A hora é de entrega. O leito estendido à espera dos jogos  amorosos. Os olhos são fechados, a boca é aberta. Beijos de bom–bom, tão bom! Doces e aromatizados, perfume de mulher, essências aromáticas se misturam numa atmosfera criadora  que somente os pássaros possuem.
Fantasias pré-concebidas se misturam com a improvisação de carinhos que nascem na movimentação dos corpos febris e ardentes. A alma dos amantes se descontrai em eflúvios como as cachoeiras derramando águas pelo rio abaixo.
Névoa de sonhos se estende nos pensamentos contemplativos da beleza,   como se fosse a madrugada cinzenta correndo afugentada    pela luz do alvorecer. A névoa  é o corpo e a luz do alvorecer é    a alma. O rio abaixo é a vida que se estende pelos caminhos  infinitos.  A  água  é  a  sabedoria  do  viver. 
Quando a vontade dos amores e o destino não se  completam,  ocorre sempre o adeus, mesmo aquecido por horas febris no  calor dos sentimentos. É muito comum, o encontro amoroso,  em uma ou outras vezes, seguido de uma separação.
Não há  fracasso porque a voz do destino ecoa por último, e é sempre determinante, até mesmo contra a vontade de quem gostaria   de permanecer junto a alguém.
O poeta Guilherme de Almeida, o artista do verso, enriquece o canto de Osvaldo Lacerda, no momento em que o encontro  de  casais passa a ser o centro de referência para formação de uma família e a união de casais que buscam uma troca de  experiência no campo sentimental.
As últimas perguntas à mulher amada entram no campo  subjetivo: “Por que ouviste o que eu não disse? Por que disseste o que não ouvi? Arriscamo-nos a dizer que ela percebeu mensagens, via pensamento ou gestos, que lhe diziam a  verdade da alma. E nem precisava ele dizer o que para ela já   estava  decidido.
A mulher amada ficou de mãos dadas na despedida porque o  último momento teria que ter o carinho feminino que  permanecesse acima da saudade que ele, certamente, iria,   mais tarde, sentir. O carinho que ela manifestou, no adeus,     já não era sensual, apenas amigável, porque ela já estava apaziguada com os sonhos que ainda não apareceram, os  sonhos  do  verdadeiro  amor.

Blog  Fernando Pinheiro, escritor

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