Destinada para canto e piano, a música
Sonhemos foi escrita pela compositora Henriqueta Rosa Fernandes Braga (1909/1983), musicista, maestrina, professora da Escola de Música da UFRJ, nos idos de 1930 a
1970, membro da
Academia Nacional de Música.
A aura musical da compositora
que iluminou, durante 4 décadas, o caminho de gerações de jovens estudantes
e artistas, na canção
Sonhemos, estende uma luz sonora
no movimento Andante con espressione. O do final é forte como forte é a mensagem da letra que o acompanha.
A letra de Sonhemos, que ganha a forma de um belíssimo
soneto, é de autoria do escritor maranhense Humberto de Campos (1886/1934),
imortal da Academia Brasileira de Letras.
Imensamente rica de ensinamentos
que norteiam o caminho de quem passa nesta vida carregando dores e sofrimentos,
a letra da canção é uma bússola.
Usando uma linguagem comparativa
de parábolas, Humberto de Campos apresenta-nos um lago quieto que é despertado por uma pedra nele lançada.
A água se abre num súbito receio, e
ferida, arrepia-se como uma pessoa que sente o sofrimento invadir-lhe a alma.
Quando a pedra afunda, um círculo se espalha em suaves ondulações em direção da beirada e, por tanto se
abrir, a água do lago volta a ficar sossegada. Imagens ideoplásticas que servem
como exemplo de catarse, terapia que faz colocar para fora o que no íntimo afoga.
Diante da dor e do sofrimento
que se reflete no rosto de pedra, como a da esfinge no deserto, o poeta
maranhense indica, aos que sofrem, o caminho para sair do sofrimento. Basta
abrir o círculo dos sonhos que todos têm.
Os sonhos são importantes: tanto
aqueles que vêm da noite em que
adormecemos como aqueles que vivemos
de olhos abertos, misturando-se à realidade tangível dos sentidos. Em
ambos há avisos que nos indicam o
caminho do nosso destino que criamos, no roteiro que já existe, a cada instante da vida.
Abrir os círculos do sonho é o
mesmo que vivermos o que se passa em nossa alma, em nosso ser mais profundo,
onde a sabedoria deslinda os enigmas que defrontamos nos caminhos por onde
passamos ou ficamos detidos em circunstâncias que revelam um
estado emocional que nos eleva a um grau de consciência
superior.
Blog Fernando Pinheiro, escritor
Nenhum comentário:
Postar um comentário