A música Romance
– Opus 6, da compositora Najla Jabôr,
inicia-se largamente e em andante animato. A letra é do poeta J. G. de Araújo Jorge (1914/1987). Os
primeiros versos do soneto
apresentam um convite:
"Há na expressão do céu um mágico
esplendor { bis
e em êxtase sensual a terra está vencida... { bis
deixa enlaçar-te toda, a sombra nos
convida,
e a noite como esta é feita para o amor...”
Najla
Jabôr Maia de Carvalho (1915/2001) destacou-se na música
como a primeira mulher a escrever, no Brasil, um concerto para piano e orquestra.
Tivemos a notícia de que esse concerto teve a estreia, nos idos de 1972, na
cidade do Recife – PE.
À
noite, no Mirante do Pasmado, em Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro, os
casais de namorados avistam a cidade encoberta de segredos de alcova que
ninguém consegue saber. A brisa, que perpassa pelo arvoredo, traz um cheiro do
verde da vegetação que se debruça morro abaixo, misturando-se com o perfume de mulher.
Sonhos
são revelados em ternura que parecem não existir; carinhos viajam nos beijos,
abraços e olhares, guardados por um tempo sem conta, e mergulham enfeitiçados
num doce encantamento, imitando as estrelas viajando por caminhos que se perdem
pela noite adentro.
Às
vezes, um só fato toma conta do universo. A ressonância alcança os mais
longínquos recantos do planeta, despertando, dentro dos rumores de guerra, até
mesmo aqueles que não desejam ver: “a Terra está vencida”. A hidra está solta,
a águia americana voa sobre o deserto,
estendendo seus domínios.
Mesmo
em tempo de guerra, os amores se afastam, numa despedida silenciosa, crendo
mais na vida do que na morte. Tudo parece ser sem sentido. A viagem, o
desconforto de um adeus, sem a certeza do retorno aos seus lares e a
contradição de tudo que aprenderam a construir numa vida pacífica, agora parece
estar sendo desvanecido pelos ares.
A
vida continua... dias de luta sempre existiram. Construir e destruir não podem
ter a mesma finalidade, embora a
reconstrução seja feita nas mesmas bases em que a destruição deixou
resquícios. No ser humano, é a mesma coisa: os traumas comprovam o passado
danificado, vivendo um processo de reabilitação das forças que entraram em
atrito com o equilíbrio que move as estrelas e envolve o homem numa redoma
quase imperceptível.
Os
amores, ligados a essa vibração que vem das estrelas, sentem que a noite é propícia para amar. As vibrações
da luta pela sobrevivência são momentaneamente abafadas num olhar doce, num
sorriso terno e num pensamento que demonstra o amor presente. O mágico
esplendor do céu é muito maior do que tudo aquilo que pode atemorizar nossos dias.
Procurar
a noite nos cabelos da mulher amada é muito melhor do que procurá-la nos
acontecimentos que trazem luto, destruição e pavor. Até certo ponto, precisamos
saber de notícias que abalam a tranquilidade dos povos, a fim de que possamos
fazer uma singela mentalização de amor que, acreditamos,
não será perdida.
Se
a sombra se estende lá fora, um pouco mais adiante haverá claridade; nossos
passos serão sempre em busca de um lugar seguro onde possamos viver
contribuindo para que esta felicidade, que buscamos, seja a mesma daqueles que
passam por atrocidades inenarráveis. O importante é acreditar, o resultado virá
a caminho. O destino do mundo é um romance. O que hoje é sombra, amanhã será luz.
Blog
Fernando Pinheiro, escritor
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