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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

ROMANCE - Opus 6


A música Romance – Opus 6, da compositora Najla Jabôr, inicia-se largamente e em andante animato. A letra é do poeta  J. G. de Araújo Jorge (1914/1987). Os primeiros versos do  soneto apresentam um convite:
"Há na expressão do céu um mágico esplendor  { bis
e em êxtase sensual a terra está vencida...        { bis
deixa enlaçar-te toda, a sombra nos convida,
e a noite como esta é feita para o amor...”
Najla Jabôr Maia de Carvalho (1915/2001) destacou-se na  música  como  a  primeira  mulher  a  escrever,  no  Brasil,  um concerto para piano e orquestra. Tivemos a notícia de que esse concerto teve a estreia, nos idos de 1972, na cidade do Recife – PE.
À noite, no Mirante do Pasmado, em Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro, os casais de namorados avistam a cidade encoberta de segredos de alcova que ninguém consegue saber. A brisa, que perpassa pelo arvoredo, traz um cheiro do verde da vegetação que se debruça morro abaixo, misturando-se com o  perfume de mulher.
Sonhos são revelados em ternura que parecem não existir; carinhos viajam nos beijos, abraços e olhares, guardados por um tempo sem conta, e mergulham enfeitiçados num doce encantamento, imitando as estrelas viajando por caminhos que  se  perdem  pela  noite  adentro.
Às vezes, um só fato toma conta do universo. A ressonância alcança os mais longínquos recantos do planeta, despertando, dentro dos rumores de guerra, até mesmo aqueles que não desejam ver: “a Terra está vencida”. A hidra está solta, a águia americana  voa  sobre  o  deserto, estendendo seus domínios.
Mesmo em tempo de guerra, os amores se afastam, numa despedida silenciosa, crendo mais na vida do que na morte. Tudo parece ser sem sentido. A viagem, o desconforto de um adeus, sem a certeza do retorno aos seus lares e a contradição de tudo que aprenderam a construir numa vida pacífica, agora parece estar sendo desvanecido pelos ares.
A vida continua... dias de luta sempre existiram. Construir e destruir não podem ter a mesma finalidade, embora a  reconstrução seja feita nas mesmas bases em que a destruição deixou resquícios. No ser humano, é a mesma coisa: os traumas comprovam o passado danificado, vivendo um processo de reabilitação das forças que entraram em atrito com o equilíbrio que move as estrelas e envolve o homem numa redoma quase  imperceptível.
Os amores, ligados a essa vibração que vem das estrelas,   sentem que a noite é propícia para amar. As vibrações da luta pela sobrevivência são momentaneamente abafadas num olhar doce, num sorriso terno e num pensamento que demonstra o amor presente. O mágico esplendor do céu é muito maior do que tudo aquilo que pode atemorizar  nossos  dias.
Procurar a noite nos cabelos da mulher amada é muito melhor do que procurá-la nos acontecimentos que trazem luto, destruição e pavor. Até certo ponto, precisamos saber de notícias que abalam a tranquilidade dos povos, a fim de que possamos fazer uma singela mentalização de amor que,  acreditamos,  não  será  perdida.
Se a sombra se estende lá fora, um pouco mais adiante haverá claridade; nossos passos serão sempre em busca de um lugar seguro onde possamos viver contribuindo para que esta felicidade, que buscamos, seja a mesma daqueles que passam por atrocidades inenarráveis. O importante é acreditar, o resultado virá a caminho. O destino do mundo é um romance. O que hoje é sombra, amanhã será luz.

Blog  Fernando Pinheiro, escritor

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