Picture: Raising Lazarus by Carl Heinrich Bloch
(1834/1890)
A
ansiedade tomara conta daqueles corações. Havia sempre a indagação do motivo
por que ele se demorava tanto a atender ao pedido dos amigos.
O
mensageiro voltou sem ele, apenas confiante na expressão de seu rosto sereno e
tranquilo.
Dois
dias após o comunicado do convite, o Mestre demandou à Betânia, próximo a
Jerusalém, onde Lázaro estava inumado.
Quando
ele chegou, Marta e Maria, as irmãs de Lázaro, aflitas, lamentaram-se, em
copioso pranto, da ausência de Jesus, aludindo que se ele lá estivesse o fato
não teria ocorrido.
O
Mestre consolou-as dizendo que Lázaro apenas dormia e logo despertaria.
A
letargia era de longo porte, passados quatro dias sem qualquer sinal de vida
aparente. Fez-se uma pausa. Marta, sempre ocupada nos afazeres domésticos,
agora recebendo as condolências de parentes das cidades vizinhas, voltou à
presença do Mestre. Reunidos todos os familiares, Jesus disse-lhes que se
cressem, veriam a glória de Deus.
No
momento de uma pausa à reflexão da gravidade do acontecimento, o Mestre se
dispõe a um gesto de meditação e expressou: “Pai, graças te dou porque me
ouviste. Eu sei que sempre me ouves, mas eu disse isso por causa da multidão
que me rodeia, para que creiam que tu me enviaste”. (96)
(96
e 97) LUCAS, 11:41 e 42
A
seguir, volvendo o olhar para Lázaro, na arca mortuária, disse: “levanta-te e
anda”. Impulsionado pelo magnetismo salutar, Lázaro desataviou-se das ataduras
que cingiam seu corpo, começou a andar, em obediência às palavras recebidas.
Diante dos fatos consumados, permaneceram na memória de todos ali presentes as
palavras pronunciadas por Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em
mim, ainda que esteja morto, viverá”.
(97)
(96
e 97) LUCAS, 11:41 e 42
A
versão poética de Fagundes Varela, inspirada na Bíblia, narra os acontecimentos
em Betânia, onde Lázaro dormia e não
sonhava:
“Vêde
o quanto o prezava o grande Mestre! –
O
povo murmurou. – Erguei a lousa!
Erguei
a lousa que seus restos cobre! –
Ordena
o Senhor aos circunstantes.
Numerosos
então, – erguei eu mando! –
–
Senhor!... já quatro dias decorreram
Depois
que faleceu, fétido cheiro,
Cheiro
de podridão exala o corpo,
Talvez
coberto de asquerosos vermes!
Deixa
que se consuma! – disse Marta.
–
Não duvides, mulher, a fé sincera,
Abre
do céu as portas luminosas!
Eia,
vós outros, levantai a lousa! –
Com
soberano gesto ordena o Mestre.
Num
volver d´olhos, a pesada pedra,
Rangendo
sobre as bordas do sepulcro,
Descia
ao chão da gruta funerária,
E
à luz vermelha de fumoso archote
Que
Maria acendera, muda, horrenda,
Como
a garganta de tartáreo monstro,
Cheia
de sangue e de polutas carnes,
Mostrou
a tumba escancaradas fauces!...
A
seu eterno Pai volveu-se Cristo
Neste
instante solene: – Padre, Padre
Por
me haveres ouvido eu te dou graças!... –
Depois,
erguendo a mão sobre o sepulcro,
Essa
mão invisível que aplacava
As
convulsões do mar, do céu as iras,
Resoluto
bradou: – Ergue-te, Lázaro! –
Abalaram-se
os rígidos penedos
Com
terrível fragor! O chão lodoso,
Talvez
movido por secreta chama,
Tremendo
se fendeu! Correu nos ares
Uma
listra de fogo, e à luz sulfúrea
Que
rápida aclarou a funda gruta,
Viu
a gente mover-se o branco espectro
Do
desgraçado moço de Betânia,
Firmar
as mãos nas bordas da jazida,
Sacudir
o sudário, abrir os olhos,
E
entrar de novo na mansão dos vivos!...
Como
negar a esplêndida verdade?
Rejeitar
o prodígio? O povo humilde
Sentir
passar o hálito do Eterno
Por
aqueles rochedos, prosternou-se
Aos
pés de Deus que os mortos animava,
Bendisse
a Cristo, a aurora do Evangelho.”
(98)
(98) FAGUNDES VARELA, L. N. – in Anchieta ou O
Evangelho nas Selvas – poema – Canto VI – Capítulo III, IV, VII – pp. 188, 191, 194, 195, 196 –
Livraria Imperial – 1875 – Rio de Janeiro – Acervo: Academia Brasileira de Letras.
Ao
recordar o clima de aflição em que estavam mergulhadas as irmãs Marta e Maria,
pensamos que a mudança do estado de vigília para o de sono letárgico preocupa
muitas pessoas, até hoje em dia. O estado de coma é realmente preocupante.
Nas
horas da incerteza, o homem fica aflito, sem saber agir, de imediato. Ele vai
aguardando os fatos esclarecedores que lhe
clareiam a visão. Essa espera flutua na oscilação do seu equilíbrio, diminuindo sempre nos momentos em
que oscila para a fase oculta.
É
preciso saber confiar nas leis do equilíbrio que nos envolvem como os ventos
das montanhas suavizando os vales, como
também os ventos que passam pelas flores trazendo o perfume.
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