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sábado, 15 de dezembro de 2012

LÁZARO

Picture: Raising Lazarus by Carl Heinrich Bloch (1834/1890)
A ansiedade tomara conta daqueles corações. Havia sempre a indagação do motivo por que ele se demorava tanto a atender ao pedido dos amigos.
O mensageiro voltou sem ele, apenas confiante na expressão de seu rosto sereno e tranquilo.
Dois dias após o comunicado do convite, o Mestre demandou à Betânia, próximo a Jerusalém, onde Lázaro estava inumado.
Quando ele chegou, Marta e Maria, as irmãs de Lázaro, aflitas, lamentaram-se, em copioso pranto, da ausência de Jesus, aludindo que se ele lá estivesse o fato não teria ocorrido.
O Mestre consolou-as dizendo que Lázaro apenas dormia e logo despertaria.
A letargia era de longo porte, passados quatro dias sem qualquer sinal de vida aparente. Fez-se uma pausa. Marta, sempre ocupada nos afazeres domésticos, agora recebendo as condolências de parentes das cidades vizinhas, voltou à presença do Mestre. Reunidos todos os familiares, Jesus disse-lhes que se cressem, veriam a glória de Deus.
No momento de uma pausa à reflexão da gravidade do acontecimento, o Mestre se dispõe a um gesto de meditação e expressou: “Pai, graças te dou porque me ouviste. Eu sei que sempre me ouves, mas eu disse isso por causa da multidão que me rodeia, para que creiam que tu me enviaste”.  (96)
(96 e 97) LUCAS, 11:41 e 42
A seguir, volvendo o olhar para Lázaro, na arca mortuária, disse: “levanta-te e anda”. Impulsionado pelo magnetismo salutar, Lázaro desataviou-se das ataduras que cingiam seu corpo, começou a andar, em obediência às palavras recebidas. Diante dos fatos consumados, permaneceram na memória de todos ali presentes as palavras pronunciadas por Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá”.  (97)         
(96 e 97) LUCAS, 11:41 e 42
A versão poética de Fagundes Varela, inspirada na Bíblia, narra os acontecimentos em Betânia, onde Lázaro dormia e não  sonhava:
“Vêde o quanto o prezava o grande Mestre! –
O povo murmurou. – Erguei a lousa!
Erguei a lousa que seus restos cobre!  –
Ordena o Senhor aos circunstantes.
Numerosos então, – erguei eu mando!  –
– Senhor!... já quatro dias decorreram
Depois que faleceu, fétido cheiro,
Cheiro de podridão exala o corpo,
Talvez coberto de asquerosos vermes!
Deixa que se consuma! – disse Marta.
– Não duvides, mulher, a fé sincera,
Abre do céu as portas luminosas!
Eia, vós outros, levantai a lousa!  –
Com soberano gesto ordena o Mestre.
Num volver d´olhos, a pesada pedra,
Rangendo sobre as bordas do sepulcro,
Descia ao chão da gruta funerária,
E à luz vermelha de fumoso archote
Que Maria acendera, muda, horrenda,
Como a garganta de tartáreo monstro,
Cheia de sangue e de polutas carnes,
Mostrou a tumba escancaradas fauces!...
A seu eterno Pai volveu-se Cristo
Neste instante solene: – Padre, Padre
Por me haveres ouvido eu te dou graças!...  –
Depois, erguendo a mão sobre o sepulcro,
Essa mão invisível que aplacava
As convulsões do mar, do céu as iras,
Resoluto bradou: – Ergue-te, Lázaro!   –
Abalaram-se os rígidos penedos
Com terrível fragor! O chão lodoso,
Talvez movido por secreta chama,
Tremendo se fendeu! Correu nos ares
Uma listra de fogo, e à luz sulfúrea
Que rápida aclarou a funda gruta,
Viu a gente mover-se o branco espectro
Do desgraçado moço de Betânia,
Firmar as mãos nas bordas da jazida,
Sacudir o sudário, abrir os olhos,
E entrar de novo na mansão dos vivos!...
Como negar a esplêndida verdade?
Rejeitar o prodígio? O povo humilde
Sentir passar o hálito do Eterno
Por aqueles rochedos, prosternou-se
Aos pés de Deus que os mortos animava,
Bendisse a Cristo, a aurora do Evangelho.”    (98)    
(98)   FAGUNDES VARELA, L. N. – in Anchieta ou O Evangelho nas Selvas – poema – Canto VI – Capítulo  III, IV, VII – pp. 188, 191, 194, 195, 196 – Livraria Imperial – 1875 – Rio de Janeiro – Acervo:  Academia Brasileira de Letras.
Ao recordar o clima de aflição em que estavam mergulhadas as irmãs Marta e Maria, pensamos que a mudança do estado de vigília para o de sono letárgico preocupa muitas pessoas, até hoje em dia. O estado de coma é realmente preocupante. 
Nas horas da incerteza, o homem fica aflito, sem saber agir, de imediato. Ele vai aguardando os fatos esclarecedores que lhe  clareiam a visão. Essa espera flutua na oscilação do seu  equilíbrio, diminuindo sempre nos momentos em que oscila  para a fase oculta.
É preciso saber confiar nas leis do equilíbrio que nos envolvem como os ventos das montanhas suavizando os vales, como  também os ventos que passam pelas flores trazendo o  perfume.

Blog Fernando Pinheiro, escritor
Site  www.fernandopinheirobb.com.br



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