Picture from Ben–Hur (movie): actor Charlton Heston
looking at Christ
No cenário de morte a
vida resplandecia. O vento da tarde sombria espalhava o perfume dos campos
floridos de açucenas, margaridas e boninas. As folhas soltas rolavam como se
fossem os sonhos dos triunfadores da espada.
O
olhar de Ben-Hur era de total admiração e deslumbramento. Nunca sentira antes
nada igual, nem mesmo quando pisou o tapete vermelho ao ser recebido por César
não vira nele qualquer traço que lhe despertasse a alma adormecida. No entanto,
um homem simples e nobre, erguido numa cruz, mostrou-lhe a maior de todas as
conquistas.
Lentamente
dirigiu-se a Ester, a esposa que o acompanhava, e lhe disse num sussurro
comovente: “senti que a voz dele tirava a espada de minhas mãos e o ouvi falar:
Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem”.
(117) CHARLTON HESTON (1923/2008) – in
Ben–Hur, a cena do Calvário, dirigido
por William Wyler, filme que obteve 11 Oscars da Academia de Hollywood, tendo como protagonista principal Charlton Heston no papel–título que lhe
rendeu, em 1959, o Oscar de
melhor ator. No Brasil a dublagem da voz do ator Charlton Heston foi realizada por
Márcio Seixas que, em entrevista realizada em 21/1/2007, no canal de televisão
da Rede Net – TV Veiga de Almeida, declarou que o olhar de Ben-Hur a Jesus
Cristo foi uma das cenas mais impressionantes que já viu em cinema.
Toda
a juventude de Ben-Hur foi movida pela represália. Nos jogos do destino, esteve
prisioneiro nos embalos da galera, remando acorrentado numa trirreme romana. Ao
resgatar a vida do cônsul Quintus Arrius de um naufrágio, ocorrido durante uma
batalha naval, foi acompanhá-lo a Roma para receber de César as honras de
triunfador de guerra.
Com
o prestígio adquirido, o príncipe judeu volta as terras do Levante para
competir e derrotar, na arena de Cesareia, o
tribuno Messala, o amigo de infância que se transformou em inimigo implacável.
(118)A
cena da corrida de bigas, no filme Ben–Hur, é considerada, pela crítica e pelo
público, o ponto máximo do cinema.
Agora,
no Calvário, ouvindo as palavras de perdão, sente-se mais próximo dos ideais
que sonhou e respira fundo para reter algo mais do que o ar, a mente fica
mergulhada na plenitude.
Ben-Hur
sentiu em Jesus a amizade que o seu amigo de infância não teve condições de
demonstrar, na gratidão do cônsul que lhe dera o nome de pai e protetor, mas
dentro dos limites humanos, na oportunidade de servir aos ideais nobres que o
imperador romano pouco tinha para oferecer.
O
coração desse jovem príncipe judeu era tão pequenino para receber tanto amor.
Até aquilo que chamam de milagre ele conheceu: as energias da saúde que saíam
de Jesus se espalhavam, como os ventos dos campos floridos, beneficiando os
enfermos. Ele olhou ao redor e viu seus familiares curados da lepra. Seus olhos
se iluminaram na luz que vinha da cruz e uma alegria invadiu-lhe o ser.
Naquele
momento de comunhão com as esferas resplandecentes, onde gravitam as energias
que movem as estrelas e tendo em Jesus a ligação maior, o paraíso parecia arder, mas aqueles que estavam
sintonizados no amor sentiram o significado profundo da vida.
O
olhar de Ben-Hur era o reflexo do olhar de Jesus. Agora, estava vendo a
intimidade das rosas, dos ventos, do coração do
homem, da grandeza de Jesus que veio ao mundo sem ter a
necessidade de usar o emblema da águia romana, embora respeitável.
Quantas
caminhadas foram encurtadas em apenas um passo que deu em direção do homem
crucificado! Quantos sofrimentos foram retirados do caminho que Ben-Hur
buscaria encontrar, estoicamente, nas oscilações do prestígio e da glória!
O
jovem príncipe ficou em silêncio por muito tempo, pensando naquele olhar
profundo que lhe revelou a sabedoria dos valores, os que passam e os que ficam
mergulhados no tempo, reacesos na
lembrança dos amores eternos.
Alguns
soldados romanos não sentiram a atmosfera azulada que fazia ponte entre aqueles
que amam verdadeiramente e Aquele que é o próprio amor.
Um
instante depois, uma túnica foi rasgada e distribuída à sorte. Quem a ganhou,
perdeu uma oportunidade de refletir sobre a vida. Um sorriso pareceu abafar o
silêncio e risadas soltas pelo ar seguiram o caminho das oscilações.
Um
desses soldados, que presenciou a cena trágica do Calvário, era Demetrius. Ele
tocara as vestes de Jesus. Mais tarde, tornara-se amigo de Pedro, o apóstolo.
De volta a Roma, o imperador o nomeia tribuno, lotado na guarda pretoriana,
devido ao combate em que saiu vencedor ao derrotar 30 homens armados na arena
do Coliseu. No Palácio, torna-se amante de Messalina, a linda cortesã que
tirava onda de sacerdotisa de Ìsis para granjear prestígio e poder.
O
destino fez com que ele tocasse, pela segunda vez, o manto sagrado em
destroços. O imperador romano encarregou a ele a missão de trazer para o
Palácio a relíquia. Graças a interferência de Pedro, que evitou o iminente
derramamento de sangue, Demetrius cumpriu a missão diante de uma circunstância
em que a fé sobressaía acima das aparências físicas. Um antigo amor da primeira
hora, uma linda jovem, mergulhada no efeito de um forte trauma, ocorrido
semanas antes em que ela o viu ser levado pela guarda pretoriana, conseguiu
despertar, graças a fé exteriorizada no tempo em que passou coberta pelo manto.
O
imperador Calígula, de posse do manto sagrado, cometeu uma atrocidade ao mandar
assassinar um prisioneiro, com o objetivo de testar o poder miraculoso das
vestes. Sem a fé, logicamente, o milagre não ocorreu.
De
volta para casa, Ben-Hur caminhou por um riacho onde deslizavam águas
cristalinas. As pedras limpas e lisas eram como homens que podiam mudar de
lugar e aquelas outras nas rochas, seria necessária uma explosão para
desprender do sono adormecido da consciência e depois caminhar, simplesmente caminhar.
Blog Fernando Pinheiro, escritor
Site www.fernandopinheirobb.com.br
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